Na Europa de hoje,
ser-se cristão é, na maioria das vezes, ou uma questão cultural, ou
tradicional. Pouquíssimos entendem ou conhecem o papel único que Cristo tem no
Novo Testamento e na composição da fé cristã. Para muitos Jesus é algo que se
compara facilmente com Maomé, Buda ou outro “caminho” religioso qualquer. Um
entre muitos outros.
Olhando e ouvindo as
pessoas que vivem à nossa volta a fé cristã parece ser mero adereço, algo que
se diz ser parte, mas que, na realidade, não se vive, nem se experimenta. Não vou discutir as razões deste panorama, mas
o certo é que um muçulmano sabe mais de Maomé e do Corão do que um português do
“seu” cristianismo. O pior é que a pessoa e obra de Cristo são simplesmente
ignoradas. Que é Filho de Deus, e de Maria, isso sabem, mas o seu papel
redentor não é significativo para eles, pois têm em Maria e na doutrina e
prática tradicionais da Igreja Católica Romana o amparo que acham ser
suficiente para se salvarem. Para garantir tal criaram mecanismos humanos para
salvaguardar o seu destino pós-morte.
Não é isso que o Novo
Testamento propõe. Mesmo todos tendo a noção de a Bíblia ser “Palavra do
Senhor”, de que Jesus morreu na cruz, ou que Deus busca o homem, a maioria
reduziu o seu conhecimento de Cristo a menções apropriadas a funerais e
casamentos e, no demais, recitada repetitivamente nos intervalos de uma
liturgia regular. Pessoalmente não há nenhuma experiência com Cristo e o
Espírito Santo, para eles, não é real.
Jesus quando se
apresentava ante as pessoas que o ouviam, dizia de si mesmo ser a Luz, a
Verdade, O Caminho, ou a Porta. Afirmava perentoriamente que ninguém ia ao Pai,
sem ser por ele e, quando a Bíblia afirma que “Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu único Filho” para que o homem pudesse ser salvo, tal, hoje não é
apropriado maioritariamente pelas pessoas que se afirmam cristãs. A Bíblia não
faz só a afirmação de que Jesus é o único intermediário entre Deus e o homem,
mas que ele é também, de forma singular e única, o que providencia a salvação.
Não há outra possibilidade, a sua morte na cruz é única e é completamente
suficiente. Ali se cumpre a totalidade do que é necessário para se ser salvo.
Ele é o único que morre, que sofre a cruz, que verte o seu sangue pelos
pecadores, que ressuscita e está à dextra de Deus em nosso favor e, ninguém,
absolutamente ninguém mais o faz. Só ele.
É nisto que está a
singularidade de Jesus, por isso caminhos travessos ou o ir-se de viés em
crenças falsas, sejam direcionadas a instituições, igrejas, comunidades
religiosas, ou a Maria e às boas obras pessoais, a sacrifícios ou penitências,
nada, nada mesmo, pode ser colocado no seu lugar. Ele sofreu sozinho na Cruz e
padeceu atrozmente, sem a ajuda de ninguém, pelo pecado de cada um de nós, a
ponto de dizer ao Pai “porque me desamparaste?” Não foi queixa, foi dor por
nós. É ali naquele instante que a singularidade de Jesus se firma e solidifica.
Nada podemos fazer para mudar isto. Só ele.
Provas? É só ler com
muita atenção e discernir o que os capítulos 1 e 2 de Colossenses nos dizem.
Por exemplo, é-nos revelado que:
É nele que “temos a
redenção, isto é, o perdão dos pecados” 1:14, portanto só por ele há perdão.
É Jesus “o pleno
conhecimento do mistério de Deus” (Cl 2:2b), ou seja, Cristo, o Messias, é o
Filho amado (1:13), a imagem do Deus invisível (1:15) e “o primogénito sobre
toda a criação”. Tudo foi criado nele, e para ele, e por ele. Em suma, todas as
profecias e plano de Deus para a salvação do homem têm uma única convergência e
esta é Jesus.
Por isso:
É nele que temos de
“andar, arraigados e edificados nele (Cl 2:6-7).
É em nome de Jesus que
oramos, que vamos ao Pai, e que intercede por nós, não havendo outros
intermediários.
É em nome de Jesus
Cristo que se expulsam demónios e é ele quem os despoja do seu poder e derrota
na cruz, onde os expôs em triunfo sobre eles” (Cl 15).
É em nome de Jesus
Cristo, o nazareno, que se cura (At.3:6b e 16a).
É Jesus quem nos
“circuncida”, não numa marca étnica, por mãos humanas, num deitar fora de uma
carne tida por inútil (de pecado), marca eterna, no baptismo, quando afirmamos
nos ter despojado da carne do pecado e de sua escravidão.
É a ele que “anunciamos, aconselhando e
ensinando todo o homem com sabedoria, para que apresentemos todo o homem
perfeito em Cristo”.
E já agora é nele que
“habita corporalmente TODA a plenitude da divindade” (Cl 29) e a ele se
submetem os demónios, sejam principados, sejam potestades.
Nele estão ocultos todos
os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2:3). É ele, e só ele, quem está no
centro de minha fé, tendo de estar no centro de minha prática, num estilo de
vida condizente com a fé que afirmo ter. É fé a sério, não só afirmada
verbalmente, culturalmente, mas fé mostrada e vista por Deus e pelos homens.
Assim tornarei Cristo realidade singular a quem me cerca e com quem convivo.
Eduardo de Melo