domingo, 22 de julho de 2018

A singularidade de Jesus. Cristianismo a sério - Eduardo Melo

Na Europa de hoje, ser-se cristão é, na maioria das vezes, ou uma questão cultural, ou tradicional. Pouquíssimos entendem ou conhecem o papel único que Cristo tem no Novo Testamento e na composição da fé cristã. Para muitos Jesus é algo que se compara facilmente com Maomé, Buda ou outro “caminho” religioso qualquer. Um entre muitos outros.

Olhando e ouvindo as pessoas que vivem à nossa volta a fé cristã parece ser mero adereço, algo que se diz ser parte, mas que, na realidade, não se vive, nem se experimenta.  Não vou discutir as razões deste panorama, mas o certo é que um muçulmano sabe mais de Maomé e do Corão do que um português do “seu” cristianismo. O pior é que a pessoa e obra de Cristo são simplesmente ignoradas. Que é Filho de Deus, e de Maria, isso sabem, mas o seu papel redentor não é significativo para eles, pois têm em Maria e na doutrina e prática tradicionais da Igreja Católica Romana o amparo que acham ser suficiente para se salvarem. Para garantir tal criaram mecanismos humanos para salvaguardar o seu destino pós-morte.

Não é isso que o Novo Testamento propõe. Mesmo todos tendo a noção de a Bíblia ser “Palavra do Senhor”, de que Jesus morreu na cruz, ou que Deus busca o homem, a maioria reduziu o seu conhecimento de Cristo a menções apropriadas a funerais e casamentos e, no demais, recitada repetitivamente nos intervalos de uma liturgia regular. Pessoalmente não há nenhuma experiência com Cristo e o Espírito Santo, para eles, não é real.

Jesus quando se apresentava ante as pessoas que o ouviam, dizia de si mesmo ser a Luz, a Verdade, O Caminho, ou a Porta. Afirmava perentoriamente que ninguém ia ao Pai, sem ser por ele e, quando a Bíblia afirma que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho” para que o homem pudesse ser salvo, tal, hoje não é apropriado maioritariamente pelas pessoas que se afirmam cristãs. A Bíblia não faz só a afirmação de que Jesus é o único intermediário entre Deus e o homem, mas que ele é também, de forma singular e única, o que providencia a salvação. Não há outra possibilidade, a sua morte na cruz é única e é completamente suficiente. Ali se cumpre a totalidade do que é necessário para se ser salvo. Ele é o único que morre, que sofre a cruz, que verte o seu sangue pelos pecadores, que ressuscita e está à dextra de Deus em nosso favor e, ninguém, absolutamente ninguém mais o faz. Só ele.

É nisto que está a singularidade de Jesus, por isso caminhos travessos ou o ir-se de viés em crenças falsas, sejam direcionadas a instituições, igrejas, comunidades religiosas, ou a Maria e às boas obras pessoais, a sacrifícios ou penitências, nada, nada mesmo, pode ser colocado no seu lugar. Ele sofreu sozinho na Cruz e padeceu atrozmente, sem a ajuda de ninguém, pelo pecado de cada um de nós, a ponto de dizer ao Pai “porque me desamparaste?” Não foi queixa, foi dor por nós. É ali naquele instante que a singularidade de Jesus se firma e solidifica. Nada podemos fazer para mudar isto. Só ele.

Provas? É só ler com muita atenção e discernir o que os capítulos 1 e 2 de Colossenses nos dizem. Por exemplo, é-nos revelado que:

É nele que “temos a redenção, isto é, o perdão dos pecados” 1:14, portanto só por ele há perdão.

É Jesus “o pleno conhecimento do mistério de Deus” (Cl 2:2b), ou seja, Cristo, o Messias, é o Filho amado (1:13), a imagem do Deus invisível (1:15) e “o primogénito sobre toda a criação”. Tudo foi criado nele, e para ele, e por ele. Em suma, todas as profecias e plano de Deus para a salvação do homem têm uma única convergência e esta é Jesus.

Por isso:

É nele que temos de “andar, arraigados e edificados nele (Cl 2:6-7).

É em nome de Jesus que oramos, que vamos ao Pai, e que intercede por nós, não havendo outros intermediários.

É em nome de Jesus Cristo que se expulsam demónios e é ele quem os despoja do seu poder e derrota na cruz, onde os expôs em triunfo sobre eles” (Cl 15).

É em nome de Jesus Cristo, o nazareno, que se cura (At.3:6b e 16a).

É Jesus quem nos “circuncida”, não numa marca étnica, por mãos humanas, num deitar fora de uma carne tida por inútil (de pecado), marca eterna, no baptismo, quando afirmamos nos ter despojado da carne do pecado e de sua escravidão.

É a ele que “anunciamos, aconselhando e ensinando todo o homem com sabedoria, para que apresentemos todo o homem perfeito em Cristo”.

E já agora é nele que “habita corporalmente TODA a plenitude da divindade” (Cl 29) e a ele se submetem os demónios, sejam principados, sejam potestades.

Nele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2:3). É ele, e só ele, quem está no centro de minha fé, tendo de estar no centro de minha prática, num estilo de vida condizente com a fé que afirmo ter. É fé a sério, não só afirmada verbalmente, culturalmente, mas fé mostrada e vista por Deus e pelos homens. Assim tornarei Cristo realidade singular a quem me cerca e com quem convivo.


Eduardo de Melo