domingo, 22 de julho de 2018

O conceito de justo no tempo de Jesus - Ezequiel Julião

O uso das palavras, ao longo dos tempos sempre esteve sujeito aos desenvolvimentos que as palavras vão tendo. Por exemplo, há muitos anos atrás, a palavra “adorar” tinha essencialmente um cunho religioso. Hoje, ela faz parte do vocabulário para expressar o gosto por um determinado prato, amigos e muito mais. O mesmo tem acontecido com outros conceitos ao longo dos tempos, ganhando novos significados e interpretações.

Quem era considerado justo
O conceito de justo ou de uma pessoa justa dentro do contexto judaico procede de Deus, que é apresentado como justo tanto ao punir como ao salvar o homem. Podemos ver isso bem revelado nos grandes feitos de libertação e cativeiro apresentado na narrativa bíblica.

Para que o homem entendesse claramente esse conceito, Deus deu a lei, por meio de Moisés, com o fim de ser a base para o relacionamento entre o Senhor e o seu povo e também entre os homens. Passou-se então a considerar justo o povo israelita por ter sido escolhido por Deus para relacionar-se com Ele, ainda que por muitos momentos não andassem de acordo com os mandamentos divinos. Um exemplo disso é a intercessão do profeta Habacuque em favor do povo de Deus (Hb 1:13b), onde lemos: “por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justado que ele?”. Nessa situação em particular, o povo estava a viver longe dos preceitos de Deus como vê-se desde o início do livro. Mas ainda assim, como vemos no versículo que acabamos de citar, consideravam-se justos. No relacionamento entre as pessoas, aqueles que olhavam para o interesse daqueles que mais precisavam, eram tidos como justos. Por isso a prática de dar esmolas e não só, era uma demonstração de que a pessoa cumpre os mandamentos de Deus e através das suas ações, passava a ser considerado uma pessoa justa.

Nosso contexto e nosso entendimento do justo.
Se aquele era o entendimento da sociedade, Jesus se mostra distanciado dessa forma de pensar. Para ele, o ser considerado justo não estava baseado nos pressupostos que o próprio homem poderia apresentar, mas na confiança que as pessoas depositavam no Deus soberano. Ou seja, para Jesus nós somos considerados justos não porque somos fiéis a Deus, mas porque depositamos nossa fé no JUSTO Senhor.

É esse entendimento que serve de base para os seus relacionamentos e para a realidade cristã que vivemos hoje. Em Cristo somos considerados justos porque Ele cumpriu a lei, tornando-nos aceitáveis pelo pai.

A Relação
Assim ao relacionarmos os dois entendimentos sobre quem é reconhecido como justo, fica claro que os são completamente diferentes. Quando para a sociedade do tempo de Jesus o justo era considerado alguém que cumpria a Lei e  demonstrava um cuidado pelos necessitados na sua atuação. Esse entendimento, não está alinhado com a perspectiva divina.

Depois de Cristo, verifica-se uma mudança onde o cumprimento da lei e a prática da caridade não são os barómetros de identificação de alguém considerado justo. No entanto, a atitude de reconhecer que somos fracos, incapazes por nós mesmos de fazer o que é agradável e que satisfaça a ira de Deus, leva-nos a reconhecer a obra realizada por Deus em nosso favor por meio do Senhor Jesus, o Justo, que morreu para que pudéssemos comparecer perante o pai justificados.

Louvado seja Deus que nos justificou.


Ezequiel Julião