quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A inclusão dos mais novos no ministério pessoal e particular dos pastores - Teotónio Cavaco

No artigo anterior, foi possível observar que Jesus inclui os mais novos como parte integrante do seu ministério pessoal, dotado de um sentido missiológico que não pode passar despercebido a todo o estudante honesto das Escrituras. Se tal estratégia acompanhou o Modus operandi do Mestre, como podem os pastores de hoje não adotar tal medida para os seus próprios ministérios?

Há três grandes declaracões de Jesus que devem levar-nos a avaliar se essa valorização está presente nos ministérios particulares dos pastores dos nossos dias:

1) Ao nível da visão do reino. Em Marcos 10.14, o Mestre afirmou: “...dos tais é o reino dos céus”. Outras traduções optam por “o reino dos céus é deles”. A passagem bíblica mostra o interesse de Jesus em abençoar os mais novos e a reação impeditiva dos discípulos, o que levou o Mestre a revelar um sentimento de indignação pela atitude deles (não são muitas as vezes que Jesus se mostra indignado). Quando Jesus faz essa afirmação, Ele alarga a visão do reino aos mais pequenos e diz que esse reino é próprio delas. Em Mateus, Ele chega a afirmar que a matriz para entrar no reino dos céus é a própria criança e o padrão para ser-se grande no reino ajusta-se à humildade que está presente na criança. Isso significa que nós precisamos de dedicar atenção e cuidado aqueles que servem de matriz ao reino e o classificam.

2) Ao nível da missão do reino. Em Mateus 18.14, O Mestre afirmou: “...não é vontade de vosso Pai Celeste que pereça um só destes pequeninos”. Que afirmação surpreendente! Jesus está a dizer que é da vontade intrínseca do Seu ser que nem um só pequenino se perca. Pedro também repetiu o mesmo sentido de missão quando escreve na sua Segunda Carta: “...não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2Pedro 3.9). Ao observarmos com cuidado o texto de Mateus 18, descobrimos que Jesus deixou de usar a palavra “criança”, referida nos versículos 2 a 5, quando fala da visão do reino, e passou a usar a palavra “pequeninos”, referida nos versículos 6, 10 e 14, que no original é a palavra “mikros”, indicando um ser pequeno que também está incluído na missão que pertence ao reino. Isso significa que faz parte da missão dos pastores o cuidado especial por aqueles pequeninos que “crêem em Mim (Jesus)” (v.6).

3) Ao nível do rebanho que caracteriza o reino. Em João 20.21, O Mestre afirmou: “apascenta os meus cordeiros”. Esta ordem tem-me incomodado ao longo dos últimos 35 anos de ministério. É uma ordem igualmente declarativa da missão tão igual quanto Mateus 28.19-20 ou Marcos 16.15, apenas com uma ligeira diferença, pois foi dita a um servo isolado. É uma ordem dada particularmente a Pedro, o mesmo apóstolo que haveria de ser “cabeça de cartaz” das cenas divinas que viriam a palco nos primeiros episódios da história da igreja de Jesus, narradas por Lucas em Actos. Este é o apóstolo que tomou a dianteira da liderança apostólica por uns tempos e que apesar dos sinais evidentes de que a salvação era para todos, precisou de uma visão especial, narrada em Actos 10, para alargar-lhe os horizontes de que os estrangeiros e os mais novos são parte do rebanho!

Poder-se-á dizer que ainda hoje o preconceito existe? Se o rebanho entregue aos seus servos para ser pastoreado inclui os mais novos, não será razão suficiente que os pastores ministrem a todo o rebanho, incluindo os cordeiros?

Teotónio Cavaco