Dois homens
entraram em cena, pousando sob o radar de Jesus. Um deles, entretido no seu
trabalho, parecia nem saber que Jesus por ali andava. O outro, deixando tudo
para trás, ansiosamente procurava ver Jesus. A ambos o Mestre chamou. O
primeiro, de nome Levi, antes distraído, levantou-se de imediato da sua
cadeira, no posto de cobrança, e sem hesitar seguiu Jesus (Lc 5.27-39). O
Segundo, de nome Zaqueu, antes atentamente escondido, desceu de uma figueira,
em modo de corrida, para se encontrar com o Senhor (Lc 19.1-10).
Mas o que unia
estes dois homens, aparentemente tão distintos e distantes? Ambos eram
publicanos, cobradores de impostos, judeus que em nome dos opressores romanos
coletavam os impostos locais ao seu próprio povo. Ambos eram usados pelos
inimigos, odiados pelos seus e desprezados por todos. Eram autênticos párias daquela
sociedade. Um Judeu sério jamais se uniria ou comeria com estes dois homens,
pois não poderia ter qualquer parte com publicanos e pecadores.
Mas, espanto
dos espantos, com ambos Jesus se sentou à mesa! Pelo primeiro, foi convidado.
Com o segundo, fez-se de convidado. O primeiro fez questão de lhe preparar um
banquete, para o qual chamou uma multidão de amigos publicanos e outros
pecadores. O segundo, com pressa e simplicidade, atendeu o seu pedido e
recebeu-o em sua casa, na intimidade da sua família. Em ambas as mesas, aquele
que era convidado, assumiu o papel de anfitrião.
Por causa de
ambos, foi criticado por escribas, fariseus e judeus em geral. O problema não
era a festa, nem a mesa, mas os convidados, dois publicanos e todo um conjunto
de familiares e amigos, todos pecadores, que com eles privavam e que, deste
modo, pulavam inesperadamente para a mesa e esfera de Jesus. “Mas isso é uma
afronta” - murmuravam em coro os guardiões da Lei – “os gentios e pecadores não
fazem parte da lista de convidados de Deus para o grande banquete escatológico.
Como pode Ele, então, ter o desplante de com eles comer?”. A resposta de Jesus
não poderia ser mais incisiva: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os
pecadores ao arrependimento” (Lc. 5.32), “porque o Filho do Homem veio buscar e
salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10).
O alvoroço se
gerou à mesa, perante tal declaração de propósito e missão, que ninguém
entendia. Então, Deus está disposto a salvar qualquer um que reconhece a obra
expiatória do Seu Filho e nela crê, confessando-se culpado, “descendo da sua
árvore”? Os Judeus não queriam acreditar e, decerto, não o podiam aceitar. Para
eles a mesa era um muro de separação, mas para Jesus era sinónimo de comunhão,
inclusão e aceitação. Então passaram ao ataque, censurando-o porque os seus
discípulos não jejuavam, mas eram sim profanos comilões e beberrões. Jesus
retorque apenas com uma conversa “estranha” acerca de pedaços de roupas novas
em roupas velhas e de vinho novo em odres velhos. Provavelmente, eles não
compreenderam, mas o que Jesus deixa claro é que ele veio trazer uma novidade
de alegria aos homens, que não se coaduna com a mentalidade envelhecida dos
zelosos legalistas que estavam à sua mesa. Não, as regras formais da velha
religião deveriam abrir caminho à alegria da nova, pois é impossível alojar a
lei e a graça sem prejudicar a graça e sem estragar a lei. É também impossível
“remendar” a lei sem “anular” a graça.
À mesa com
Jesus, devemos aprender que por Ele tudo se fez novo, que agora impera a graça,
pelo que somos convocados a compartilhar o amor de Deus com os outros. As
palavras de ordem são inclusão e aceitação! Todos são bem-vindos, seja qual for
a sua condição. Por isso, tal como Jesus comeu em casa de Levi e de Zaqueu,
também nós devemos estar preparados para comer com pecadores, como uma prática
missional habitual. Se evitamos a contaminação dos pecadores, somos como os
fariseus. Ao invés, se ganhamos o rótulo de amigos de pecadores, por contraste,
somos como o nosso Salvador. Se formos inclusivos à mesa, Jesus se fará
presente e nela os pecadores contemplarão uma imagem de uma nova sociedade,
onde há perdão e esperança numa vida eterna com Deus.