quinta-feira, 19 de julho de 2018

A Importância da mesa no ministério de Jesus - Inclusão e Aceitação - António Bento

Dois homens entraram em cena, pousando sob o radar de Jesus. Um deles, entretido no seu trabalho, parecia nem saber que Jesus por ali andava. O outro, deixando tudo para trás, ansiosamente procurava ver Jesus. A ambos o Mestre chamou. O primeiro, de nome Levi, antes distraído, levantou-se de imediato da sua cadeira, no posto de cobrança, e sem hesitar seguiu Jesus (Lc 5.27-39). O Segundo, de nome Zaqueu, antes atentamente escondido, desceu de uma figueira, em modo de corrida, para se encontrar com o Senhor (Lc 19.1-10).

Mas o que unia estes dois homens, aparentemente tão distintos e distantes? Ambos eram publicanos, cobradores de impostos, judeus que em nome dos opressores romanos coletavam os impostos locais ao seu próprio povo. Ambos eram usados pelos inimigos, odiados pelos seus e desprezados por todos. Eram autênticos párias daquela sociedade. Um Judeu sério jamais se uniria ou comeria com estes dois homens, pois não poderia ter qualquer parte com publicanos e pecadores.

Mas, espanto dos espantos, com ambos Jesus se sentou à mesa! Pelo primeiro, foi convidado. Com o segundo, fez-se de convidado. O primeiro fez questão de lhe preparar um banquete, para o qual chamou uma multidão de amigos publicanos e outros pecadores. O segundo, com pressa e simplicidade, atendeu o seu pedido e recebeu-o em sua casa, na intimidade da sua família. Em ambas as mesas, aquele que era convidado, assumiu o papel de anfitrião.

Por causa de ambos, foi criticado por escribas, fariseus e judeus em geral. O problema não era a festa, nem a mesa, mas os convidados, dois publicanos e todo um conjunto de familiares e amigos, todos pecadores, que com eles privavam e que, deste modo, pulavam inesperadamente para a mesa e esfera de Jesus. “Mas isso é uma afronta” - murmuravam em coro os guardiões da Lei – “os gentios e pecadores não fazem parte da lista de convidados de Deus para o grande banquete escatológico. Como pode Ele, então, ter o desplante de com eles comer?”. A resposta de Jesus não poderia ser mais incisiva: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores ao arrependimento” (Lc. 5.32), “porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10).

O alvoroço se gerou à mesa, perante tal declaração de propósito e missão, que ninguém entendia. Então, Deus está disposto a salvar qualquer um que reconhece a obra expiatória do Seu Filho e nela crê, confessando-se culpado, “descendo da sua árvore”? Os Judeus não queriam acreditar e, decerto, não o podiam aceitar. Para eles a mesa era um muro de separação, mas para Jesus era sinónimo de comunhão, inclusão e aceitação. Então passaram ao ataque, censurando-o porque os seus discípulos não jejuavam, mas eram sim profanos comilões e beberrões. Jesus retorque apenas com uma conversa “estranha” acerca de pedaços de roupas novas em roupas velhas e de vinho novo em odres velhos. Provavelmente, eles não compreenderam, mas o que Jesus deixa claro é que ele veio trazer uma novidade de alegria aos homens, que não se coaduna com a mentalidade envelhecida dos zelosos legalistas que estavam à sua mesa. Não, as regras formais da velha religião deveriam abrir caminho à alegria da nova, pois é impossível alojar a lei e a graça sem prejudicar a graça e sem estragar a lei. É também impossível “remendar” a lei sem “anular” a graça.

À mesa com Jesus, devemos aprender que por Ele tudo se fez novo, que agora impera a graça, pelo que somos convocados a compartilhar o amor de Deus com os outros. As palavras de ordem são inclusão e aceitação! Todos são bem-vindos, seja qual for a sua condição. Por isso, tal como Jesus comeu em casa de Levi e de Zaqueu, também nós devemos estar preparados para comer com pecadores, como uma prática missional habitual. Se evitamos a contaminação dos pecadores, somos como os fariseus. Ao invés, se ganhamos o rótulo de amigos de pecadores, por contraste, somos como o nosso Salvador. Se formos inclusivos à mesa, Jesus se fará presente e nela os pecadores contemplarão uma imagem de uma nova sociedade, onde há perdão e esperança numa vida eterna com Deus.

António Bento