quinta-feira, 26 de julho de 2018

Graça na vida de Jesus - Ismael Couto

A Graça de Deus tornou-se evidente na vida de Jesus. Sendo Jesus Deus, faz todo o sentido que esta seria uma característica clara n’Ele, na sua vida e ministério. Jesus encarnado tornou visível, quase palpável, a Graça de Deus. Em Lucas 2:36-40 vemos que, mesmo ainda em tenra idade, o narrador do Evangelho representa Jesus como alguém sobre o qual estava de forma total, não em evolução, a graça de Deus. Existem outros textos que nos mostram o testemunho de terceiros em relação à vida Jesus como sendo cheia de demonstração da graça de Deus. Textos como Lucas 4:22 e João 1:14-17 são prova que Jesus tornou palpável e compreensível a graça de Deus a todo aquele que cresse. É Jesus quem torna comunicável este atributo divino ao homem através da Sua encarnação.

No entanto, a Graça de Deus não foi apenas verificada pelos testemunhos de observadores ou discípulos, mas é claramente comprovada pela vida e ministério de Jesus ao lermos os relatos dos evangelhos.

O primeiro texto que creio ser de importância neste assunto está em Marcos 6:30-44. Esta é a primeira vez que Jesus faz o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes e é, ao mesmo tempo, uma clara demonstração da graça comum no ministério de Cristo.

A graça comum é a que toca em todos os seres humanos. Existem aspetos da graça de Deus que abençoam tanto crentes quanto descrentes, fiéis quanto infiéis, tanto os que buscam a Deus quanto os que O rejeitam. A chuva, o oxigénio, o sol, a saúde, a inteligência, etc. são algumas dentre muitas das bênçãos derramadas por Deus sobre todos.

No texto em causa, Jesus trata de um problema de “logística” que se torna evidente quando se percebe que a multidão que seguia a Jesus não tinha o que comer.

Certamente que, neste grupo de cinco mil homens, alguns, para não dizer a sua maioria, seguiam a Jesus pela Sua popularidade, pela novidade e não por querer obedecê-lo. Mesmo assim, Jesus quando multiplica o pão e os peixes, não faz distinção. Aliás, quando lemos o texto, é tão clara a graça comum que nem é mencionado o facto de que nem todos estavam ali pelas razões certas. O propósito do texto é mostrar a graça de Deus alimentando a multidão.

O segundo texto que vale a pena ver é Mateus 9:1-8. A graça habilitadora é o que gostaria de realçar neste texto. Bem sei que poderia escolher muitos outros textos que demonstrassem que na vida e ministério de Jesus este tipo de graça é visível. Esse facto apenas serve de consolo para percebermos a maravilhosa graça de Deus em relação a nós, como é generosa, como trata o homem de forma holística e como é abundante e variada.

No texto em questão, percebemos que a cura que aconteceu não é contra do que Jesus queria fazer. Jesus cura este homem para comprovar a sua mensagem e o Seu poder a todos quantos murmuravam ao presenciar este episódio.

Jesus afirma que os pecados deste homem estão perdoados, mas nem todas as pessoas crêem no que estão a ver. Então, para demonstrar que Ele pode perdoar pecados, Jesus cura este homem. Ficam, então, todos convencidos do poder de Jesus ao presenciar este ato sobrenatural visível. No fundo, este texto está dentro do padrão que é-nos dado pelos Evangelhos, no que diz respeito ao relacionamento de Jesus com os ministérios de misericórdia.

A cura física não é assunto central. Apesar de importante, a cura física visa sempre confirmar a messianidade de Jesus, o Seu poder para salvar ou a veracidade da Sua mensagem. No entanto, tal como Deus tem poder para curar e cura sempre que assim deseja, Jesus vive essa realidade de forma cabal no Seu ministério. A graça habilitadora é sinal do amor de Deus pelo homem, não só pelo espírito, mas também pelo corpo.

A terceira faceta da Graça de Deus demonstrada na vida de Jesus é a Graça salvadora. Vamos continuar em Mateus 9:1-8, porque a riqueza do texto assim o permite.

Como foi dito acima, o propósito primordial de Jesus ao tratar este paralítico não era a sua cura física, mas a sua salvação. Ao contrário da graça comum, a graça salvadora não é oferecida a todos, mas apenas aos que creem. Será que este paralítico cria em Jesus? Não há, no relato bíblico, palavra nenhuma da sua parte que nos demonstre isso.

Este paralítico estava a buscar profundamente Jesus e cria no poder de Jesus. Esta afirmação encontra respaldo no facto de que para alguém pedir a amigos para o levarem para o meio de uma multidão, de tal forma que não podendo passar, descem-no pelo telhado de uma casa, é porque este encontro com Jesus é importante. Não deve sequer entrar na nossa cogitação que este paralítico tenha sido levado para ali contra a sua vontade. O mais provável é que tudo tenha sido proposto e pedido por ele aos seus amigos.

A segunda razão que nos mostra a crença deste homem no Senhor Jesus é que quando ele chega ao pé de Jesus, é o próprio Jesus que lhes atesta a fé e assim declara perdão dos seus pecados. Nesta altura o paralítico poderia sentir-se defraudado por continuar paralítico, mas quem reage negativamente são os escribas. Podemos até especular e dizer que se os escribas não tivessem duvidado, talvez o homem tivesse continuado paralítico, no entanto, perdoado dos seus pecados.

O que tentei demonstrar é que a Graça de Deus é clara no ministério ativo de Jesus nas suas três áreas principais: Graça comum, Graça habilitadora e graça salvadora.

Jesus tornou visível o Deus da graça para que a graça de Deus tocasse o homem.

Ismael Couto