quinta-feira, 26 de julho de 2018

Dois conceitos de Liderança - Armando Alves

A liderança é um valor de autoria Divina. No entanto, tal como nas restantes áreas da nossa vida, o pecado também deturpou, na mente humana, o verdadeiro significado de "líder". 

Um exemplo flagrante desta realidade, e a resposta de Jesus à mesma, podem ser encontrados em Marcos 10:35-45.

As palavras de Jesus apontam-nos de imediato algumas conclusões:

1. Existem fundamentalmente dois conceitos opostos acerca do que significa ser um líder.

2. Tais conceitos devem-se à existência de dois reinos totalmente diferentes e opostos - o Divino e o humano.

3. O conceito humano não tem lugar no Reino de Deus.

4. Quanto maior for a ambição por liderança, menor será a aptidão para a exercer.

5. Ser líder não é um posto ou uma posição, mas sim o desejo de servir, expresso por atitudes e actos concretos.

6. Ser líder não depende do desejo do indivíduo, mas sim da vontade e escolha de Deus, confirmada por outras pessoas e circunstâncias inequívocas, de acordo com os critérios que O Próprio Senhor estabeleceu.

7. O líder torna-se directamente responsável, perante Deus, em primeiro lugar, e depois perante o grupo liderado, pela forma como adquiriu a liderança, bem como pela forma como está a exercê-la.

A Liderança cristã segundo o paradigma Tradicional

O pedido daqueles dois discípulos reflete claramente o conceito humano sobre o que significa “ser líder”. Na Bíblia, não encontramos a palavra “líder” para descrever o conceito de liderança. Assim, neste texto Jesus não usa um “rótulo”, antes prefere denunciar diretamente a essência da questão. Ele diz que, do ponto de vista humano, ser líder significa “desejar tornar-se grande”, “desejar ser o primeiro”. Depois, Jesus esclarece que no Reino de Deus, ser líder significa “servir com um espírito de servo”; não apenas servir, mas também ter um espírito de servo. E Ele coloca-se a Si Mesmo como exemplo. Não nos é oportuno desenvolver aqui esta ideia, mas importa, isso sim, vermos com bastante pesar que, na Igreja Cristã em geral, ao longo dos séculos, e nas Igrejas Evangélicas em particular, a busca por liderança tem-se regido, inúmeras vezes, segundo o espírito do mundo, originando por isso inúmeros problemas e cisões. 

Por outro lado, a Reforma revelou-se passiva em relação ao tema, e a Igreja Evangélica, em geral, não tem demonstrado preocupação suficientemente forte para quebrar a influência da tradição do catolicismo romano, na práxis de uma estrutura hierárquica de liderança elitista, onde se continua a pensar em “líderes”, por oposição a “leigos”. No nosso caso como Baptistas, o fenómeno é um pouco diferente… Teologicamente posicionamo-nos claramente como defensores do “sacerdócio de todos os santos”, mas a nossa teologia prática e a nossa filosofia ministerial também não demonstram, na prática, qualquer alteração. Embora não pareça, este facto constitui um dos problemas fulcrais na falta de crescimento da Igreja Baptista em Portugal. 

Nos próximos artigos iremos analisar a relação existente entre “liderança” e “discipulado”, e como isso afecta a Missão da Igreja e o Reino de Deus.

Armando Alves