O uso das palavras, ao
longo dos tempos sempre esteve sujeito aos desenvolvimentos que as palavras vão
tendo. Por exemplo, há muitos anos atrás, a palavra “adorar” tinha
essencialmente um cunho religioso. Hoje, ela faz parte do vocabulário para
expressar o gosto por um determinado prato, amigos e muito mais. O mesmo tem
acontecido com outros conceitos ao longo dos tempos, ganhando novos
significados e interpretações.
Quem era considerado justo
O conceito de justo ou
de uma pessoa justa dentro do contexto judaico procede de Deus, que é apresentado
como justo tanto ao punir como ao salvar o homem. Podemos ver isso bem revelado
nos grandes feitos de libertação e cativeiro apresentado na narrativa bíblica.
Para que o homem
entendesse claramente esse conceito, Deus deu a lei, por meio de Moisés, com o
fim de ser a base para o relacionamento entre o Senhor e o seu povo e também
entre os homens. Passou-se então a considerar justo o povo israelita por ter
sido escolhido por Deus para relacionar-se com Ele, ainda que por muitos
momentos não andassem de acordo com os mandamentos divinos. Um exemplo disso é
a intercessão do profeta Habacuque em favor do povo de Deus (Hb 1:13b), onde
lemos: “por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o
perverso devora aquele que é mais justado que ele?”. Nessa situação em
particular, o povo estava a viver longe dos preceitos de Deus como vê-se desde
o início do livro. Mas ainda assim, como vemos no versículo que acabamos de
citar, consideravam-se justos. No relacionamento entre as pessoas, aqueles que
olhavam para o interesse daqueles que mais precisavam, eram tidos como justos.
Por isso a prática de dar esmolas e não só, era uma demonstração de que a
pessoa cumpre os mandamentos de Deus e através das suas ações, passava a ser
considerado uma pessoa justa.
Nosso contexto e nosso entendimento do justo.
Se aquele era o
entendimento da sociedade, Jesus se mostra distanciado dessa forma de pensar.
Para ele, o ser considerado justo não estava baseado nos pressupostos que o
próprio homem poderia apresentar, mas na confiança que as pessoas depositavam
no Deus soberano. Ou seja, para Jesus nós somos considerados justos não porque
somos fiéis a Deus, mas porque depositamos nossa fé no JUSTO Senhor.
É esse entendimento que
serve de base para os seus relacionamentos e para a realidade cristã que
vivemos hoje. Em Cristo somos considerados justos porque Ele cumpriu a lei,
tornando-nos aceitáveis pelo pai.
A Relação
Assim ao relacionarmos
os dois entendimentos sobre quem é reconhecido como justo, fica claro que os são
completamente diferentes. Quando para a sociedade do tempo de Jesus o justo era
considerado alguém que cumpria a Lei e
demonstrava um cuidado pelos necessitados na sua atuação. Esse
entendimento, não está alinhado com a perspectiva divina.
Depois de Cristo,
verifica-se uma mudança onde o cumprimento da lei e a prática da caridade não
são os barómetros de identificação de alguém considerado justo. No entanto, a
atitude de reconhecer que somos fracos, incapazes por nós mesmos de fazer o que
é agradável e que satisfaça a ira de Deus, leva-nos a reconhecer a obra
realizada por Deus em nosso favor por meio do Senhor Jesus, o Justo, que morreu
para que pudéssemos comparecer perante o pai justificados.
Louvado seja Deus que
nos justificou.
Ezequiel Julião