quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Crescimento e Missão: Grupos Familiares - Rui Sabino

A visão de crescimento da igreja, nos seus vários conceitos, e o cumprimento da Missão de Deus, anunciada no Éden (Gn 3:15), profetizada pelos profetas e entregue à igreja por Jesus na chamada “Grande Comissão” (Mateus 28:18-20), tem passado, ao longo da história do Cristianismo, por pequenos grupos de cristãos que se reúnem nos lares com vista a adoração. Estes pequenos grupos tem o mérito de potenciar o sacerdócio de todos os crentes.

Na cultura portuguesa, as igrejas estão muito reféns das ideias católicas do clero, do dia sagrado e do templo. O povo português vê os elementos do clero como os executantes religiosos e litúrgicos da igreja. Vê também o templo como a própria igreja. Essa visão divorcia as pessoas da vivência da fé. Embora existam diferenças muito grandes entre a igreja católica e as igrejas evangélicas, também existe esta visão de clero, de vida cristã no templo e em certos dias especiais, no contexto evangélico.

O ministério da “Nação Santa, do Reino de Sacerdotes”, deve ser exercido por todos aqueles que foram salvos em Jesus. Deus, com o Seu Santo Espírito, capacitou todos os seus filhos para fazer parte da missão de Deus, tanto na adoração como no cumprimento da Missão, e todos são agentes ativos no crescimento da Igreja e do Reino de Deus.

A igreja deve ser uma comunidade onde se aprende a viver na perspetiva da graça e misericórdia de Jesus. Deste modo, poderá desenvolver-se como uma comunidade terapêutica e restauradora.

Os pequenos grupos promovem a intimidade e a possibilidade de que os seus participantes experimentem a verdadeira comunhão cristã. É impossível ser íntimo de uma multidão, mas é normal que num pequeno grupo se estabeleçam relacionamentos fortes e intensos, que cuidem e restaurem vidas.

No pequeno grupo é possível viver e definir valores, tomar decisões e pedir contas das mesmas, viver a intimidade cristã e a comunhão interdependente – Koinonia. Os pequenos grupos permitem que o encontro cristão seja vivido à semelhança de Atos 2, onde a palavra “irmão” passa a ganhar um sentido mais profundo.

A comunhão da igreja em volta da Palavra e da partilha da vida, do dia a dia, gera o discipulado cristão. Ali, no pequeno grupo, os cristãos tornam-se discípulos amadurecidos e compreendem o crescimento integral da igreja - o seu relacionamento com Deus, o seu relacionamento com a comunidade da igreja e o desejo de fazer parte da missão de Deus. A comunhão do pequeno grupo permite o ensino teórico da Palavra e a experiência da vida cristã demonstrada na vida de outros irmãos que vivem na sua proximidade.

Os pequenos grupos promovem líderes experimentados e capazes. Líderes que capacitam a igreja a pôr em prática os dons de Deus. A igreja que depende só do seu pastor ficará atrofiada e com dificuldades naturais para se multiplicar.

Os pequenos grupos fortificam e protegem a igreja, uma vez que promovem o pastoreio mútuo. É difícil tomar conta de todas as ovelhas dentro de uma congregação média em Portugal. Os pequenos grupos têm a comunidade sob vigilância e cuidado. Vivem a comunhão, experimentam a intimidade, estão perto e presentes nos momentos importantes da vida. Enfim, no pequeno grupo quebra-se um paradigma do pastorado pelo clero e distribui-se pela comunidade, que aprende a vigiar, cuidar e fortalecer o seu irmão na fé.

Os pequenos grupos fazem sobressair a diversidade de dons que existe na igreja. Concedem oportunidade a todos os crentes para exercê-los, para glória do Senhor e edificação da igreja. Os pequenos grupos geram uma cumplicidade comprometida entre a comunidade da igreja, que se transforma, na prática, no Corpo de Cristo, ágil e saudável.

Os pequenos grupos, sendo a igreja nos lares ou reunida noutros pequenos espaços, tem como propósito natural e intrínseco revelar a salvação em Jesus. Os lares têm sido instrumentos preciosos na prática da evangelização. Jesus, no lar de Zaqueu, revelou a sua missão “vim buscar e salvar o perdido!”. A igreja cresce em toda a dinâmica do pequeno grupo, na sua fidelidade e devoção ao Senhor.

O estudo da Palavra, a comunhão íntima, o serviço e desenvolvimento dos dons, a formação de liderança, o discipulado, o testemunho evangelístico, o zelo e a devoção da adoração tornam os lares em pequenas “embaixadas” do Reino de Deus.

Podemos concluir que a igreja nos lares potencia o crescimento da igreja “para cima, para dentro e para fora”, pois a intimidade do lar aprofunda a relação da igreja com Deus, aproxima e estabelece laços fraternais entre os irmãos e desenvolve um ardor evangelístico que encontramos na igreja primitiva, no desejo de cumprir a Missão redentora de Deus. 

Rui Sabino

Implementando uma Cultura de Discipulado na Igreja Pós-moderna - Armando Alves

No artigo anterior vimos que existe uma relação direta entre três fatores da vida de um discípulo: “Fazer discípulos”, santificação e liderança. Face a esta realidade, precisamos perguntar de forma muito honesta e transparente: Quais os critérios que usamos na atribuição de liderança na Igreja local?

1. Dentre esses critérios, está incluída a condição de o potencial líder demonstrar um estilo de vida intencional em “fazer discípulos” e já ter “feito”, pelo menos, um discípulo no decurso da sua vida cristã?

2. Dentre esses critérios, está incluída a constatação de um crescimento evidente e contínuo, nas dimensões fundamentais do ser – cognitiva, psico-emocional e relacional – como evidência de uma maturidade espiritual genuína, fruto de uma real intimidade com Deus?

3. Dentre esses critérios, está incluída a constatação da existência de um espírito de servo (não apenas o desejo de servir), com a correspondente atitude de humildade genuína que costuma acompanhá-lo (implica estar recetivo a ser corrigido, e desejar aprender sempre)?
Finalmente, “em jeito” de teste ao nosso conceito de liderança, talvez seja interessante perguntarmos:

- Se tivermos de retirar a liderança a todos os que não preenchem os três critérios atrás referidos, quantos ficariam?

Na verdade, não existe nenhuma garantia, de que aquilo a que chamamos “liderança”, na Igreja pós-moderna, seja aquilo que Deus entende por liderança no contexto do Seu Reino. Nós não encontramos na Bíblia a expressão “líder”.

E o que Jesus coloca em Mateus 20:26,27 e 23:11,12 não é a questão da liderança, mas antes das atitudes a que uma posição de liderança pode conduzir. Daí, a necessidade de compreendermos que, para Jesus, o líder é o servo, e sem esse espírito de servo, não existe uma genuína liderança. Por oposição, Jesus afirma que não veio “para ser servido, mas para servir”, e Ele interpreta esse serviço como algo que é feito até às últimas consequências, em benefício daqueles que Ele veio servir. Assim, os fatores “Amor” e “Altruísmo” estão incluídos no processo de liderança, sendo que o Amor implica um investimento na libertação e reconstrução da pessoa , à Imagem de Cristo, bem como o seu progresso ministerial e crescimento em todas as dimensões do ser. O que acabamos de afirmar, é uma forma de descrever, por outras palavras, aquilo a que chamamos “Grande Comissão. E quando nós, como discípulos, estamos comprometidos com esta tarefa, então somos realmente líderes no contexto do Reino de Deus.

Face ao que temos visto, na verdade todo o discípulo nascido de novo foi chamado para ser líder, mas nem todos estão a sê-lo, na medida em que nem todos estão envolvidos com a Grande Comissão. Daí, à luz dos três critérios que atrás vimos, perguntamos:

1. Será correto nomearmos, para a liderança das “nossas” Igrejas e instituições, pessoas que não se enquadram nos critérios?

2. Será que, se começarmos a requerer das pessoas estes critérios, como condição sine qua non, para a sua nomeação como líderes, algo irá mudar nas “nossas” Igrejas e instituições e no panorama Baptista a nível nacional? Ou talvez não?... Só Deus sabe!

Seja como for, creio que temos o dever de começarmos a ser bíblicos, levando o ponto de vista de Deus a sério, em todos os assuntos, e acerca desta questão em particular. Temos a responsabilidade de ensinar estes critérios e implementar uma filosofia ministerial que lhes corresponda e lhes seja fiel.

Para Deus, ser um líder não é ocupar um cargo na “estrutura” organizativa da Igreja local, ou numa organização. Para Deus, no contexto do Seu Reino, ser líder não é ESTAR, mas SER(VIR). Entre nós, temos aqueles que já estão a SER(VIR)... E também temos aqueles podem VIR a SER...

Armando Alves

Como nos relacionarmos tendo em vista os relacionamentos pessoais de Jesus - Ezequiel Julião

Ao olharmos para a forma como Jesus se relacionou com as pessoas do seu tempo, precisamos trazer de maneira prática à realidade, para que procuremos como agentes de Deus no processo de redenção do pecador, andar segundo os passos de Jesus.

Como vimos em sua atuação, o mestre quebrou paradigmas ligados a religião e não só, porque sua forma de ver o homem, não era de acordo com os padrões humanos, mas pelos padrões divinos. Por isso ele não olhava para aquilo que o homem era, mas para aquilo que ele viria a ser, por obra de Deus na vida da pessoa.

Para responder a questão sobre as lições a tirar do que observamos na forma como Jesus se relacionou com justos e pecadores, temos que em primeiro lugar olhar para nós mesmos, como resultado desse relacionar-se de Jesus com as pessoas do seu tempo. Se ele não tivesse tido compaixão, ao olhar para Levi que era considerado uma pessoa a ser excluída do convívio, assim como outros mais que eram considerados pecadores, nós não teríamos o privilegio de experimentar essa graça maravilhoso. Porque aqueles que foram alcançados pelo olhar gracioso de Jesus, foram os obreiros da expansão do evangelho que chegou aos nossos dias. Assim sendo, um primeiro ensino é que precisamos em todo o tempo olhar para as pessoas a nossa volta, não por aquilo que elas são ou aparentam ser, mas por aquilo que Deus pode operar nas suas vidas.

Quando assim procedermos, não faremos distinção entre quem é o justo para o nosso convívio ou quem é o pecador de quem não queremos sequer estar próximo. O ponto aqui é: precisamos parar de olhar apenas para aqueles que são nossos irmãos em Cristo, como quem deve fazer parte do nosso grupo de amizade. É preciso cultivar relacionamento com pessoas incrédulas, pois são elas que precisam ouvir o evangelho de Cristo, do qual Ele nos constituiu agentes.

Jesus em seu ministério, tinha como motivação o amor e a urgência de anunciar o Reino de Deus. Estes dois elementos caminhavam de mãos dadas na intencionalidade que Jesus tinha quando abordava uma pessoa, como podemos ver nos textos de Jo 4.1:42  e Lc 8.26:39, que narram a historia da mulher samaritana e do homem endemoninhado.

Portanto, nossa atuação nos relacionamentos precisa ter como motivação também esses dois elementos, para que possamos cumprir o mandato de Jesus de sermos suas testemunhas (At 1:8).

Vivemos tempos em que os relacionamentos são superficiais e digitais, apesar de todos reconhecerem a necessidade de um relacionamento mais pessoal. Na verdade, esse é o grande desafio que a Igreja de Cristo precisa preparar-se para enfrentar. Porque até mesmo nós, que nos afirmamos como um corpo, só nos encontramos ao domingo por 4 horas se tanto.

Precisamos responder a pergunta: será que essas 4 horas semanais me habilitam a conhecer o meu irmão, a ponto de afirmar que tenho um relacionamento que demonstra amor e cuidado? O que dizer então daqueles com quem passo o maior tempo durante a semana? Atenção que não falo dos familiares, porque se contabilizarmos o tempo, muitos de nós passam mais tempo com os colegas de trabalho (40 horas de trabalho semanal), do que com a família (o pouco tempo que resta do dia, porque as horas de sono não contam). Será que esses com quem passamos a maior parte do nosso tempo, durante a semana, têm se sentido amados? Eles ouvem ou veem em nós o evangelho?

Que nós possamos amar como Cristo amou, para que vidas sejam salvas.

Ezequiel Julião

O Reino de Deus nas Parábolas de Jesus – A Parábola da Semente - Alberto Carneiro

A parábola da semente (Marcos 4:26-29) é um texto curto mas muito profundo. O autor Marcos sintetiza as palavras de Jesus acerca de um assunto que tem uma enorme importância: a forma como a vida de cada humano se desenrola até que é chamado à presença de DEUS.

A parábola é de simples compreensão. Poderíamos até dizer que é simplista face ao tema abordado. Jesus compara o Reino de DEUS a um agricultor que lança à terra a sua semente. Naturalmente que ele espera que a semente consiga nascer, crescer e dar fruto para seu benefício. E o benefício comprova-se no momento da colheita, isto é, quando o agricultor “lhe passa a foice”. Jesus ensina de forma fácil algo tão complexo e difícil de entender, demonstrando muita sabedoria na forma como o faz.

DEUS tem de facto no mundo muitas criaturas. Homens e mulheres de todas as raças, tribos e nações. Que nascem, vivem, crescem e morrem. Umas para honra e satisfação do Criador. São os Seus filhos eleitos, tocados pela Sua graça e perdão. Outras, por contraste, são apenas isso mesmo, criaturas de um DEUS a quem não reconhecem, não aceitam e por isso mesmo, serão banidas da sua herança.

Mas há um enorme contraste entre a parábola e aquilo que acontece com o Reino de DEUS: enquanto que o agricultor sabe semear e sabe colher mas não sabe o que se está a passar no interior da terra até que a planta aparece à superfície, desconhece também a forma como se dá o crescimento, DEUS tudo conhece e controla no que aos Seus diz respeito.

Todos estão no mundo, todos têm a mesma terra, isto é, as mesmas condições e oportunidades, todos podem crescer e se desenvolver, em chegando o tempo de colheita todos serão recolhidos e aí será feita a separação.

Há várias outras parábolas em que Jesus clarifica esta situação: a parábola do semeador (Mateus 13:1-9) é talvez a maior ajuda para percebermos melhor o que nos é dito nesta parábola da semente. Somos cabalmente esclarecidos da acção da Palavra e da forma como DEUS acompanha o Seu crescimento em cada terra, isto é, em cada coração face à aceitação ou recusa de aceitar a Sua Palavra. Por isso podemos dizer que se um agricultor que semeia não entende o processo de nascimento e crescimento, no que às nossas almas diz respeito, DEUS tudo conhece e controla, cuidando dos seus, abençoando e ajudando no seu desenvolvimento, de forma a que quando se realizar a colheita, eles herdem as riquezas do Pai e estejam para sempre com Ele.

O Reino dos Céus é algo maravilhoso guardado para os Filhos do Rei. Como excelente agricultor, DEUS conhece todas as fases desde a sementeira até à colheita, e nesse conhecimento nós estamos seguros e salvaguardados. Permita DEUS que nos nossos dias possamos contribuir para que muitos e muitos sejam também recolhidos para o Seu Reino no dia da colheita. Que ela possa ser abundante. Que seja feita com muitos que conhecemos e com todos a quantos amamos. 

Alberto Carneiro 

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

O desafio do trabalho em parceria - Carlos Martinez

Um sonho muito comum da liderança das igrejas em geral é ter a “paróquia” própria. Muitas actividades que se fazem nas congregações locais tem o propósito de exibir força, recursos, talentos, organização. Há um exacerbado apego as estatísticas como uma maneira de comprovar a efectividade dos trabalhos que se estão a fazer. Congressos, capacitações e encontros são feitos para publicitar o método que está a ter sucesso em algum canto do mundo. O evangelista solitário e com resultados de curto prazo, se não "instantâneos”, é mais valorado que a equipa que investe meses ou até anos em alcançar uma comunidade com o evangelho de Cristo.

É necessário reconhecer que nenhum de nós é suficiente em nós mesmos para cumprir a missão. Isolados, todos temos limitações, os recursos humanos, físicos e financeiros são escassos, a força e pouca. O sucesso que alguém possa alcançar é transitório. Necessitamos dos outros. Necessitamos trabalhar em parceria. E necessitamos de humildade para admitir tudo isso. Profissionais, cientistas, desportistas, artistas, jovens e velhos, homens e mulheres, todos podem ser parte do trabalho redentor de nosso Deus quando o trabalho é feito em equipa, em parceria. Todos podem ser partícipes da graça de Deus neles e em outros.

Em João 4, Jesus instrui os seus discípulos sobre a importância da parceria na proclamação do evangelho. «Porque nisso é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro, o que ceifa. Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho» (37-38). A regra no reino espiritual é que o semeador e quem faz a colheita sejam pessoas diferentes. Todo obreiro do reino é ao mesmo tempo ceifador (do que outros semearam) e semeador (da semente que produzirá uma colheita que outros colherão). Na ceifa do Senhor, não há competição. Cada um recebe uma tarefa, e todos fazem parte do trabalho uns dos outros. Portanto, tanto o semeador quanto o ceifeiro desfrutam deste plano divino: sempre haverá uma colheita. Os que semeiam talvez não vejam o resultado de seu trabalho, mas os que colhem vêem e dão graças pelo esforço dos semeadores.

A abordagem do trabalho em parceria também reconhece que Deus é o orquestrador da colheita, o cronograma está em Suas mãos. Por algum motivo, quando se trata de testemunhar de Cristo, parece sempre ser o lugar errado e a hora errada. O comentarista Warren Wiersbe expressa o seguinte com respeito ao texto de João 4:
«Imagino que, ao chegarem perto de Sicar, os discípulos disseram: "Não pode haver colheita aqui! Essa gente despreza os judeus e não aceitaria nossa mensagem". Mas era justamente o contrário: aqueles campos estavam prontos para a ceifa e só precisavam de trabalhadores dedicados». Outros haviam trabalhado em Samaria e feito preparativos para essa colheita.

O desafio é grande. O trabalho se apresenta difícil. O tempo passa e parece que as forças não são suficientes. Trabalhemos juntos! Deus é fiel, por isso nós podemos ser fiéis.

Carlos Martinez

Fazer Discípulos... Como Fonte de Crescimento e produto de uma consciência de Liderança - Armando Alves

Uma análise – ainda que superficial – da História do Homem, na perspetiva de Deus, revela-nos de imediato uma ênfase constante na necessidade de transformação do nosso ser, desde que o pecado surgiu na nossa vida.

Raramente encontramos a ordem de “fazer discípulos” associada ao conceito de maturidade espiritual, ou como fonte de santificação pessoal... No entanto é esse o enquadramento que Jesus lhe dá (João 17:17-21). Jesus estabelece uma relação direta entre a responsabilidade de fazer discípulos (ser enviado ao mundo) e a santificação pessoal (como motivação principal para santificar outros). Assim, podemos compreender melhor que o propósito de Jesus, ao entregar-nos a responsabilidade da Grande Comissão, não era “unicamente” de “fazer discípulos”, mas antes, que nesse processo de os “ensinar a obedecer a todas as coisas”, nós próprios pudéssemos crescer!

A conclusão é óbvia: Um discípulo que não “faz discípulos”, nunca vai experimentar um crescimento real e satisfatório, porque nunca vai sentir a necessidade de buscar uma genuína santificação, da qual depende a santificação dos outros!

“Fazer Discípulos”... de Cristo!

Embora teoricamente este pareça ser um ponto óbvio, acerca do qual não parece haver qualquer dúvida, nem lugar a qualquer objeção, contudo a realidade dos factos é bem diferente, razão pela qual fiz questão de acrescentar a expressão “... de Cristo!”

Todo líder sinceramente decidido a realizar um ministério cristocêntrico, que glorifique o Nome de Cristo e não a sua pessoa, conhece a frustração de constatar que, numa significativa maioria dos casos, a transferência (gradual e inconsciente) de poder e autoridade, de Cristo para o líder humano, é um fenómeno comum, decorrente da nossa natureza idólatra, herança da influência do pecado, e sobre o qual tendemos a exercer muito pouca vigilância.

A necessidade de colocarmos a nossa confiança em “algo” ou alguém que possamos ver e tocar, está constantemente presente no nosso comportamento, como seres humanos em geral, e de forma muito prática, embora quase sempre impercetível, pode ser constantemente verificado na vida dos cristãos, seja qual fôr a sua confissão teológica!

“Construir” discípulos com uma estrutura psico-emocional cristocêntrica, não é apenas difícil, como também, em muitos casos, impossível! É com muita frequência que podemos assistir, na vida de muitos cristãos, ao desmoronamento da sua vida espiritual, quando têm de enfrentar a sua separação de alguém que fôra, até então, seu líder espiritual...

Este “Sindrôme de Corinto”, contrariamente ao descrito na Bíblia, não é tão visível, nem se revela de forma verbalmente declarada, como aquele!... E, se confrontarmos um cristão evangélico com tal realidade, provavelmente nos dirá que “... Não creio que isso se passe comigo...” tal é a subtileza desta tentação, uma das que podemos classificar como um dos nossos “pecados ocultos”, camuflado de tal forma perante a nossa consciência, que não temos qualquer hesitação em, de forma perentória, negá-lo, enquanto simultaneamente o praticamos! Por isso mesmo, tem sido aproveitado pelo inimigo para causar muitos estragos no seio do povo de Deus!

“Produzir” Líderes

Se por um lado Jesus deixa, de forma muito clara, a nossa responsabilidade em “fazer discípulos”, fica igualmente clara qual a abrangência do ensino que devemos ministrar-lhes: “... ensinando-os a obedecer a TODAS AS COISAS...”, bem como o facto de que, atingir “... a medida da Estatura de Cristo...” é um Objectivo Divino que nos inclui a todos nós, e não apenas um número restrito, integrante de uma “hipotética elite espiritual”!...

Uma vez reposta esta realidade, só nos resta uma vez mais, reforçar a nossa convicção de que todos nós fomos convocados para o exercício da liderança, embora existam diversos níveis de liderança, em função dos dons e do propósito para o qual Deus deseja usar-nos!
A verdade implícita nesta realidade, é óbvia! Não fomos salvos para permanecermos “unicamente” discípulos, nem “apenas” para “fazermos” discípulos, que permanecerão discípulos, mas todos fomos chamados a sermos líderes espirituais que se reproduzem noutros líderes espirituais (Efésios 4).

Ser Líder de Líderes

Tanto Jesus – nosso Modelo Supremo como Líder – como Paulo, exemplo seguro de um verdadeiro estratega, nos mostram a importância de planear o exercício da liderança em torno de um objectivo prioritário: o de formar novos líderes!

Podemos e devemos, adquirir a perspetiva de que a nossa principal tarefa é “fundarmos” uma escola de liderança, olhando cada discípulo nascido de novo como um líder em potencial que, tal como nós, é chamado essencialmente a perseguir três ideais, ou objectivos, ao longo da sua vida:

a) Ser discípulo – Crescer em maturidade, buscando alcançar a Estatura de Cristo...
b) Ser servo – Exercer o “seu” ministério, segundo os dons que O Espírito Santo lhe concedeu...
c) Ser líder – Fazer discípulos, olhando para eles com os potenciais líderes e preparando-os para tal.

Como já devem ter notado, goza de base bíblica a tese de que TODOS somos chamados a sermos líderes... Pelo que, seguindo este princípio, todos nós somos chamados a ser líderes de líderes!

Armando Alves

A ressurreição de Jesus - Inês Gandaio

O que é que pode abalar o teu mundo? A morte, o desemprego, a doença, uma discussão acalorada, um acidente rodoviário, uma traição. Este post irá refletir no texto que se encontra em Marcos 16:1-8 e no encontro com três mulheres, Maria Madalena, Maria (mãe de Tiago e José) e Salomé. Dizem-nos as Escrituras que eram discípulas de Jesus, que presenciaram os seus milagres, que ouviram os seus discursos e serviram-no, chegando até a assistir ao momento mais difícil do seu ministério, a crucificação (Mc 15:40-41). Estas mulheres após terem visto Jesus expirar na cruz continuaram a observá-lo, sabendo exatamente onde o corpo tinha sido sepultado (Mc 15:47).

É interessante notar o interesse destas mulheres por Jesus. Ele estava morto, a sua esperança tinha morrido com Ele, só restava a tristeza, o choro, o luto, a fuga. Mas elas ainda acreditavam poder servir o Mestre, cuidando do Seu corpo. De acordo com Vaux, os hebreus criam que enquanto subsiste o corpo (até pelo menos durar a ossada) subsiste a alma.

Assim, as mulheres diligentemente, compraram aromas e especiarias para poderem ungir o corpo de Jesus. A unção para a sepultura consistia em cobrir o corpo de uma pasta especial (formada por aloés e ervas aromáticas) que no caso de Jesus, pesava cerca de 45 kg (Jo 19:39). De seguida as faixas de linho eram enroladas à volta do corpo, dos pés até ao pescoço (Rainho). A pasta endurecia e impregnava as faixas até que um molde se formasse ao redor do corpo, que seria de difícil extração. Este processo servia para conservar o corpo, retardando a decomposição.

O propósito destas mulheres rapidamente esbarrou num obstáculo, uma grande pedra estava à entrada do túmulo. Cabisbaixas, percorrendo o caminho, pensavam em como haviam de a retirar, seria quase impossível. Olhando para cima (v. 4), repararam que a pedra tinha sido removida. O espanto, a surpresa e provavelmente a suspeita deve ter inundado as suas mentes. Entraram no túmulo e deparam-se com um anjo. Um turbilhão de sentimentos assolou os seus corações: pasmo, assombro, temor, maravilha. Era tal o choque que o anjo necessita de focar a atenção das mulheres no seu propósito, Jesus. Ele acalma-as, confirma a identidade da pessoa a quem buscavam, Jesus, que tinha sido crucificado, referindo que Ele estava vivo, que tinha ressuscitado e que o seu corpo já não estava ali.

Diante dos factos, as mulheres ficaram sem propósito. Mas, Deus tinha um propósito muito diferente e mais elevado para elas. O anjo ordenou-lhes que fossem e anunciassem aos discípulos o que tinham visto, e para que encontrassem Jesus na Galileia. É incrível a nota do anjo: “como ele vos disse” (v.7). Tanto os doze, como as mulheres tinham ouvido Jesus a falar da sua ressurreição e até viram Jesus a ressuscitar Lázaro (Jo 11:1-29), mas a morte, a dor, a finitude, a humanidade, a carnalidade tomou conta dos seus corações incrédulos.

O versículo 8 é enigmático e percetível. Afinal a vida daquelas mulheres, os seus propósitos, motivações, sentimentos, emoções, prioridades e crenças tinham sido completamente abalados. Tudo estava de pernas para o ar, o mundo delas tinha virado ao contrário. Como reagiríamos diante de tais acontecimentos? A fuga e o silêncio parecem-me reações justificáveis.

Como é que reages diante dos obstáculos, das perdas, quando até as tuas crenças são postas em causa? Como as mulheres que ficaram agastadas com tamanho revés nos acontecimentos?

Sabemos que a história da ressurreição não acaba no verso 8. As mulheres foram e anunciaram tudo o que tinham visto e ouvido aos discípulos. A sua aparente desobediência, falta de propósito, incredulidade, desnorteamento e medo dá lugar à fé e à obediência.

Jesus é o Deus dos vivos, é a ressurreição e a Vida. Ele tudo pode, venceu o maior inimigo/obstáculo do mundo por amor a ti e a mim. Deixa para trás o medo, abraça a libertação dos problemas que assolam a tua humanidade, e segue pensando no que te está proposto, um corpo incorruptível, uma existência eterna onde não haverá choro, nem dor, nem pranto. Não te esqueças das palavras de Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (Jo 16:33).

Inês Gandaio

Shemá é o Reino de Deus hoje - Mário Conrado

Chegando ao fim desta série de estudos sobre o Shemá Israel, e tendo já percebido pelo contexto de Jesus, que devemos amar a Deus, com tudo o que somos e temos, e também ao próximo, surge então a questão - Mas como poderemos fazê-lo, sem ser apenas de língua ou conversa?

É interessante percebermos que a resposta encontra-se desenvolvida no Evangelho de Lucas, em que o intérprete da lei, após reconhecer este Shemá, pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?” (Lucas 10:29). Jesus já tinha demonstrado aos seus discípulos a importância deste Shemá, em que deviam amar uns aos outros, demonstrando o Seu amor a todas as pessoas. Agora Ele apresenta uma parábola, para comprovar a importância deste amor, que deve ser prático – a parábola do Bom Samaritano. Não é nosso propósito analisar completamente e a fundo esta parábola, mas trazer a essência dela para compreendermos como hoje poderemos viver este Shemá.

Ainda assim ao olharmos para a parábola do Bom Samaritano, antes de avaliarmos logo pela negativa, temos de entender que o sacerdote e levita, cumprem a lei, ao afastarem-se do corpo, pois lhes parecia estar morto. É que segundo a Lei, sendo o cadáver impuro, contamina quem dele se aproxima. Logo eles se afastaram. Como diz McKnight, “Se chegar perto o bastante de um cadáver, a ponto de projetar a sombra sobre o corpo, a pessoa que projeta a sombra torna-se impura.”[1] Eles simplesmente obedeceram. Aliás, acrescenta ainda, “não existe um judeu que ouça a parábola de Jesus e pense que o sacerdote (ou o levita) esteja fazendo algo contrário ao que rege a Torá. A ironia da pequena trama é que, ao «obedecer» à Lei, o sacerdote e o levita estão desobedecendo à essência da Torá: amar o próximo.”[2] Porque nem sequer se aproximaram, temendo a letra da lei, falharam em demonstrar a essência da lei, compaixão, por aquele homem moribundo. Logo aquele samaritano, que normalmente era sinónimo de persona non grata para o judeu, tornou-se verdadeiramente o próximo que cumpriu e demonstrou compaixão por aquele desconhecido judeu.

Então como devemos nós fazer hoje? Amar o próximo! Como?

1. O amor começa por vislumbrar/entender as necessidades dos que nos rodeiam.

Próximo não tem a ver com proximidade geográfica ou familiar. Ainda que a palavra no grego tenha a ideia de comunidade ou comunhão, próximo é aquele que, surgindo no nosso radar, demonstra ou apresenta necessidades, na quais podemos ajudar, nem que seja simplesmente estar com. Então como temos vivido nós? Se calhar continuamos também, no meio da nossa religiosidade a olhar para o lado, distraídos ou fingindo que nada tem a ver connosco, em vez de amarmos. Lembra-te, “não somos chamados ao amor pela lei, mas à Lei de amor.”[3]  Temos de estar alerta às necessidades que nos rodeiam, e tal como Pedro e João diante do coxo de nascença (Actos 3), darmos daquilo que temos – o amor de Jesus Cristo. Pode ser uma palavra, um abraço, o socorro necessário, o alimento para o momento, um ombro para apoiar, um ouvido para escutar, uma exortação, etc. É na forma como vivenciamos este amor, que se torna visível, Cristo em nós.

2. O amor vivencia-se em qualquer circunstância.

Em segundo lugar, a compaixão pode ter que ser demonstrada quando menos esperamos. Devemos estar sempre disponíveis para agir em amor. “Na Parábola do Bom Samaritano, Jesus está convocando os seus ouvintes a agirem com compaixão a qualquer hora – e em qualquer lugar – em que surgir alguma necessidade. Era comum viajar de Jerusalém para Jericó. Todavia, não era normal contaminar-se a fim de demonstrar compaixão. No entanto, também não é normal encontrar um homem à beira da morte. Aquilo de que o sacerdote e o levita conseguem desviar-se (um cadáver impuro) é uma pessoa a quem o samaritano consegue achegar-se com compaixão.”[4] Assim também nós que vivemos esta lei do amor, devemos estar sempre prontos para em qualquer eventualidade, demonstrarmos compaixão.

Sei que não parece nada fácil, principalmente quando envolve alguém que não conhecemos ou até de quem até parece não gostarmos. Por isso J. Nolland utiliza uma expressão interessante quanto ao amar o próximo: “To love the neighbor as oneself does not mean to love the other as much as you love yourself, but it does mean to love the neighbor in the way you would love yourself.”[5] Segundo ele, não tem a ver com a quantidade de amor com que amas, mas com a forma como amas. Por isso Jesus apresenta na parábola, um samaritano. É o como…

Concluindo, o amor é para hoje. Como diz Stegemman, quanto a esta parábola, “o samaritano ajuda porque leva em consideração o apelo que emana da pessoa nua, desfigurada e destituída da sua dignidade e se sente responsável por ela. A narrativa bíblica não descreve nenhum comportamento que formule uma ética inovadora. Novo é só que a solidariedade humana fundamental, descrita nesse exemplo, é vinculada ao mandamento do amor ao próximo.”[6] Este amor aqui demonstrado é a voz do Reino de Deus neste mundo. O Shemá é vivo e actual, embora em muitas vidas e igrejas assim o não pareça. Como reconhece Morris, “viver no amor, é viver a vida no reino de Deus.”[7] Se amamos a Deus, logicamente amamos o próximo. Como diz Francis Schaeffer, “O amor – e a unidade que ele declara – é o manifesto que Cristo deu para os cristãos exibirem perante o mundo. Que o mundo saiba, tão-somente com este manifesto, que os cristãos são realmente cristãos e que Jesus foi enviado pelo Pai”.[8]

Jesus não trás nada de novo, mas realça a importância deste amor, e como ele deve ser pratico, vivenciado e não algo teórico. Assim temos de viver hoje. Como tens lidado com as necessidades à tua volta? Foges pois nãos tens ‘tempo’, ou mostras compaixão? Como mostra o Shemá, se amo a Deus, amo o meu próximo.

Mário Conrado


[1] O Credo de Jesus. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2009, p. 58.
[2] Ibidem.
[3] Ibid, p. 59.
[4] Ibid, p. 61.
[5] Nolland, J. (1998). Luke 9:21–18:34 (Vol. 35B, p. 585). Dallas: Word, Incorporated. Em Logos Bible Software.
[6] Jesus e seu Tempo. São Leopoldo: Sinodal, 2012, p. 379.
[7] Lucas: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 178.
[8] O Credo de Jesus. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2009, p. 62.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

A Liderança Cristã Sob a Óptica de Cristo – Líderes ou “Leigos”? - Armando Alves

As perguntas que se colocam agora são:

Qual será o conceito de Cristo para a liderança humana no contexto do Seu Reino? Será que ele coincide com o nosso próprio conceito?

Quais os critérios prioritários, estabelecidos por Deus, na escolha da liderança humana para O Seu Povo?

Analisemos então estas questões de perto!

A - Uma Responsabilidade Entregue a Todos

No contexto do Reino de Deus, e após uma análise mais cuidada dos textos bíblicos, é incontornável o facto de que todos nós, povo de Deus, discípulos de Jesus nascidos de novo por acção do Espírito Santo, somos chamados a exercer liderança espiritual! Todo o ser humano, nascido de novo em Cristo, está automaticamente convocado a ser uma referência para o “mundo”, para todo o pecador não-regenerado, e é chamado a “fazer discípulos” de Cristo! Esta convocatória é geral (para todo o filho de Deus em Cristo) e NÃO é opcional – não tenho a opção de rejeitar tal responsabilidade! Isto implica que todo acto de discipular, é um acto de liderança!

À luz desta realidade, concluímos que todos nós, cristãos regenerados, somos chamados à liderança espiritual no meio das trevas!

B - Níveis de Liderança

O tipo de liderança supracitado é, na verdade, entregue a todo o povo de Deus, a toda a “pedra viva” que participa na edificação desta “casa espiritual” que é a Igreja, a Noiva de Cristo, o número daqueles que, pelo novo nascimento em Cristo, são declarados santos, separados, embaixadores do Reino e instrumentos de ação do próprio Reino, pela Presença do Espírito Santo que habita em nós!

Uma vez compreendido, e salvaguardado o papel de todo o discípulo como líder, e a sua responsabilidade em “fazer discípulos”, importa agora relembrarmos o que a Bíblia diz, através de Paulo, na sua carta aos Efésios, capítulo 4! Segundo este texto, o ministério é entregue a todo o povo de Deus, todos os que são chamados a serem líderes espirituais, mas outros tipos de líderes são referidos, os quais são caracterizados em função dos seus dons espirituais, bem como pela responsabilidade que recebem, no alcance e formação dos primeiros.

À medida que vamos analisando os textos bíblicos que nos falam de liderança, mais nos vamos apercebendo das implicações que podemos extrair dos mesmos! Algumas dessas implicações iremos estudar em seguida, mas para já ficarmos com estas duas verdades sobre liderança cristã:

1. Todos somos chamados a sermos líderes.

2. Existem várias áreas e níveis em liderança cristã, os quais não se apresentam de forma hierárquica, antes dependem dos dons e ministérios exercidos, bem como da abrangência (número de pessoas lideradas), e do propósito de Deus para cada líder!

Acerca da liderança no contexto do Reino, devemos ainda compreender o seguinte:

1. É Deus quem concede dons, e nos entrega o tipo de liderança em que Ele deseja usar-nos, segundo o seu Eterno Propósito!

2. Um líder que realize um ministério produtivo num certo contexto não é, obrigatoriamente, um líder eficaz em todos os contextos. Liderança cristã é algo que se exerce no centro da Vontade de Deus!

3. No Reino de Deus, a liderança tem como finalidade, a Glória de Deus e a edificação do Seu povo!

Obviamente, no reconhecimento de liderança está implicado o conceito de autoridade.

Assim, e no contexto do Reino, podemos afirmar que uma definição de autoridade, poderá ser a seguinte:

Autoridade é o reconhecimento, por parte de Deus e de outros, da validade dos padrões pelos quais nos regemos, bem como da coerência existente entre as nossas palavras, as nossas atitudes e o nosso estilo de vida, à luz desses mesmos padrões.

Consequentemente, no contexto do Reino de Deus, liderança poderá ter a seguinte definição:

Liderança é o direito que nos é concedido por Deus e reconhecido por outros, para, sob a liderança e ação do Espírito Santo, edificarmos e motivarmos – pelo exemplo, por palavras e por atos – a Pessoa e o Carácter de Cristo, naqueles que O reconhecem como Senhor e desejam obedecer-Lhe.

Notem o que esta definição nos diz: Liderança é... sob a liderança e ação do Espírito Santo...Ou seja, ser um líder espiritual – no Reino de Deus – é ser alguém que é liderado pelo Espírito Santo, facto que os outros reconhecem ser uma realidade...

Com tais definições – biblicamente fundamentadas – a Bíblia está a indicar-nos 3 características muito importantes que definem um líder em termos gerais:

1 - Tem um ideal concreto e definido.
2 - É coerente com esse ideal.
3 - Motiva os outros a seguirem o ideal proposto.

A relação coerência/exemplo é fundamental em liderança! A Palavra de Deus pronunciada por um homem com o "rótulo" de cristão não é a base da sua autoridade espiritual, mas sim a Palavra de Deus vivida por esse homem! Se basearmos a nossa autoridade nos nossos "títulos", estaremos a agir como os escribas e fariseus, que baseavam a sua autoridade no título que ostentavam, sob o qual praticavam toda a sorte de pecados, sem os encararem como tal – por essa razão Jesus disse que eles eram cegos (Mat. 15:14).

"Um profeta não tem honra na sua própria pátria" (João 4:44), pode significar também que dificilmente alguém será profeta contra si mesmo... e no entanto, é aí que reside toda a autoridade de um líder espiritual... a humildade realista de denunciar os seus próprios pecados e abdicar da sua posição até alcançar vitória sobre eles.

Não há nada mais incoerente do que um líder cristão errado... Convencido de que está certo!

Armando Alves