segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A Unção de Jesus em Betânia - Inês Gandaio

O texto que pretendo refletir neste post encontra-se no Evangelho segundo Marcos, capítulo 14, versículos 3 a 9. No capítulo anterior, Jesus profere o chamado “sermão profético”, em que relata a destruição do Templo de Jerusalém, as futuras perseguições que vão assolar a vida dos discípulos e a Sua Segunda Vinda.

O texto inicia-se com a referência a uma cidade, Betânia. Ela estava situada a cerca de 3 kms de Jerusalém e era um lugar onde Jesus, por várias vezes, se retirava para estar na casa dos seus amigos Lázaro, Marta e Maria. Nesta ocasião Jesus foi convidado para um banquete na casa de Simão, o leproso.

A casa estava cheia, Jesus, o anfitrião e os outros convidados, estavam a disfrutar de uma bela refeição quando entra uma mulher. Segundo Coleman, as mulheres não se sentavam na mesma mesa dos homens. Elas entrariam e serviriam, e só no final é que fariam a sua refeição. Esta mulher entra na sala, não profere uma única palavra, não vem servir ninguém, nem dar algum recado, ela quebra a barreira social movida pelo amor a Jesus e age. Ela traz um vaso de alabastro que continha perfume de nardo puro. O nardo era uma planta rara que crescia na Índia, o perfume era feito a partir da extração da planta, transformando-o assim no perfume mais caro do mundo. Marcos acrescenta que este perfume era de nardo puro, ou seja, não era uma falsificação, não havia mistura no nardo. A oferta da mulher era preciosíssima, ela valeria cerca de 300 denários que corresponderia a mais de um ano de salário, naquela época. Ela quebra o vaso e derrama o perfume sobre a cabeça de Jesus. Era costume judaico o convidado ser recebido com todas as honras pelo anfitrião. Uma delas seria ungir a cabeça com óleo perfumado e especiarias (p. ex. Sl 23), a fim de que o convidado se sentisse repousado e fresco. Não sabemos se Simão procedeu desta forma para com Jesus, a verdade é que no texto é relatada a ação da mulher honrando a Jesus com o melhor e mais caro dos perfumes.

A reação das pessoas “mereceu” indignação e murmuração. Desperdício e ajuda aos pobres foram os argumentos. Jesus esclarece e defende a boa obra da mulher. Ele vê para além das aparentes boas intenções destes homens que não passam de desculpas, ele vê o seu coração e sabe que as críticas vinham de uma motivação errada. A mulher “fez o que pôde” (v.8) indicando que ela agiu de acordo com o seu coração, cheio de gratidão e adoração. Segundo Mathews, Deus julga as ações mediante os motivos que as geraram.

É interessante como o evangelista não está preocupado em nomear os intervenientes destes acontecimentos, a mulher e os que murmuram contra ela. Provavelmente o evangelista não queria que pensássemos nas pessoas e nas suas motivações, mas que olhássemos unicamente para as suas ações, fruto do seu coração, para que os leitores não fizessem juízos de valor. Refiro ainda o contraste que existe entre a mulher e os que murmuravam contra ela. A mulher agiu unicamente, sem proferir uma única palavra, ela nem se defendeu quando acusada. Os murmuradores fizeram um discurso politicamente correto, não agiram, e unicamente atacaram aquela que demonstrava claramente as motivações do seu coração.

Jesus aponta para um significado “escondido” que está na ação da mulher. A missão de Jesus na Terra, a entrega do Seu corpo na cruz, a Sua morte, a unção do Seu corpo. A ação da mulher e a recordação que se fará dela, indicada no verso 9, leva-nos a refletir no significado mais profundo. A unção da mulher lembra o costume judaico descrito no AT em que as pessoas que tinham sido escolhidas/separadas para cumprir uma missão específica de Deus, eram ungidas, nomeadamente reis (p. ex. 1 Sm 16:13; 1 Rs 1:39), sacerdotes (Ex 30:30; Lv 8:12) e profetas (1 Rs 19:16). É importante pensarmos a altura que eles estavam a viver, diz-nos o texto que faltavam dois dias para a celebração da Páscoa. A festa mais importante do calendário judaico comemorava a libertação do povo da escravidão do Egipto. Existia um significado profético na ação da mulher. A obra que Jesus veio realizar, a de ser O Cristo, O Ungido de Deus, O Messias prometido do VT. O que era há muito esperado pelo povo de Israel, o Redentor e Salvador, o líder do povo foi ungido por uma mulher, que entregou o melhor que tinha para honrar O Rei, O Profeta, O Sacerdote.

Que privilégio teve esta mulher de ser defendida, amada, exaltada, e tida como exemplo para todos nós, pela sua devoção e amor ao Ungido de Deus. Ela entregou o melhor de si mesma a Jesus, e Jesus doou-se a si mesmo por esta mulher. E tu? Tens dado o que podes a Deus? Agradeces diariamente a preciosidade da Sua entrega? Da Sua obra por amor a ti? Ou será que és aquele que dá desculpas para não dar o teu melhor ao Rei dos Reis?

Inês Gandaio