O texto que pretendo
refletir neste post encontra-se no Evangelho segundo Marcos, capítulo 14,
versículos 3 a 9. No capítulo anterior, Jesus profere o chamado “sermão
profético”, em que relata a destruição do Templo de Jerusalém, as futuras
perseguições que vão assolar a vida dos discípulos e a Sua Segunda Vinda.
O texto inicia-se com a
referência a uma cidade, Betânia. Ela estava situada a cerca de 3 kms de
Jerusalém e era um lugar onde Jesus, por várias vezes, se retirava para estar
na casa dos seus amigos Lázaro, Marta e Maria. Nesta ocasião Jesus foi
convidado para um banquete na casa de Simão, o leproso.
A casa estava cheia,
Jesus, o anfitrião e os outros convidados, estavam a disfrutar de uma bela
refeição quando entra uma mulher. Segundo Coleman, as mulheres não se
sentavam na mesma mesa dos homens. Elas entrariam e serviriam, e só no final
é que fariam a sua refeição. Esta mulher entra na sala, não profere uma
única palavra, não vem servir ninguém, nem dar algum recado, ela quebra a
barreira social movida pelo amor a Jesus e age. Ela traz um vaso de alabastro
que continha perfume de nardo puro. O nardo era uma planta rara que crescia na
Índia, o perfume era feito a partir da extração da planta, transformando-o
assim no perfume mais caro do mundo. Marcos acrescenta que este perfume era de
nardo puro, ou seja, não era uma falsificação, não havia mistura no nardo.
A oferta da mulher era preciosíssima, ela valeria cerca de 300 denários que
corresponderia a mais de um ano de salário, naquela época. Ela quebra o vaso
e derrama o perfume sobre a cabeça de Jesus. Era costume judaico o convidado
ser recebido com todas as honras pelo anfitrião. Uma delas seria ungir a
cabeça com óleo perfumado e especiarias (p. ex. Sl 23), a fim de que o
convidado se sentisse repousado e fresco. Não sabemos se Simão procedeu desta
forma para com Jesus, a verdade é que no texto é relatada a ação da mulher
honrando a Jesus com o melhor e mais caro dos perfumes.
A reação das pessoas
“mereceu” indignação e murmuração. Desperdício e ajuda aos pobres foram os
argumentos. Jesus esclarece e defende a boa obra da mulher. Ele vê para além
das aparentes boas intenções destes homens que não passam de desculpas, ele
vê o seu coração e sabe que as críticas vinham de uma motivação errada. A
mulher “fez o que pôde” (v.8) indicando que ela agiu de acordo com o seu
coração, cheio de gratidão e adoração. Segundo Mathews, Deus julga as
ações mediante os motivos que as geraram.
É interessante como o
evangelista não está preocupado em nomear os intervenientes destes
acontecimentos, a mulher e os que murmuram contra ela. Provavelmente o
evangelista não queria que pensássemos nas pessoas e nas suas motivações,
mas que olhássemos unicamente para as suas ações, fruto do seu coração,
para que os leitores não fizessem juízos de valor. Refiro ainda o contraste
que existe entre a mulher e os que murmuravam contra ela. A mulher agiu
unicamente, sem proferir uma única palavra, ela nem se defendeu quando
acusada. Os murmuradores fizeram um discurso politicamente correto, não
agiram, e unicamente atacaram aquela que demonstrava claramente as motivações
do seu coração.
Jesus aponta para um
significado “escondido” que está na ação da mulher. A missão de Jesus na
Terra, a entrega do Seu corpo na cruz, a Sua morte, a unção do Seu corpo. A
ação da mulher e a recordação que se fará dela, indicada no verso 9,
leva-nos a refletir no significado mais profundo. A unção da mulher lembra o
costume judaico descrito no AT em que as pessoas que tinham sido
escolhidas/separadas para cumprir uma missão específica de Deus, eram ungidas,
nomeadamente reis (p. ex. 1 Sm 16:13; 1 Rs 1:39), sacerdotes (Ex 30:30; Lv
8:12) e profetas (1 Rs 19:16). É importante pensarmos a altura que eles
estavam a viver, diz-nos o texto que faltavam dois dias para a celebração da
Páscoa. A festa mais importante do calendário judaico comemorava a
libertação do povo da escravidão do Egipto. Existia um significado
profético na ação da mulher. A obra que Jesus veio realizar, a de ser O
Cristo, O Ungido de Deus, O Messias prometido do VT. O que era há muito
esperado pelo povo de Israel, o Redentor e Salvador, o líder do povo foi
ungido por uma mulher, que entregou o melhor que tinha para honrar O Rei, O
Profeta, O Sacerdote.
Que privilégio teve
esta mulher de ser defendida, amada, exaltada, e tida como exemplo para todos
nós, pela sua devoção e amor ao Ungido de Deus. Ela entregou o melhor de si
mesma a Jesus, e Jesus doou-se a si mesmo por esta mulher. E tu? Tens dado o que
podes a Deus? Agradeces diariamente a preciosidade da Sua entrega? Da Sua obra
por amor a ti? Ou será que és aquele que dá desculpas para não dar o teu
melhor ao Rei dos Reis?
Inês Gandaio