A igreja que Jesus
edificou (Mateus 16:18) só poderá cumprir a sua missão (Mateus 28:18-20) se for
verdadeiramente corpo de Cristo. No entanto, segundo Scott Peck, “a igreja deve
formar-se em comunidade para depois servir como corpo de Cristo”. Vemos uma
comunidade a funcionar naquele grupo de discípulos em Jerusalém. Logo que Jesus
ascendeu aos céus, e depois da descida do Espírito Santo, a igreja era uma
verdadeira comunidade. “Eles tinham tudo em comum”, e nesta comunidade
compreendemos na perfeição o que é ser corpo de Cristo. Aqueles cristãos viviam
unidos, tinham o mesmo desejo de adorar, de servir e de cumprir em tudo a
missão que haviam recebido. Aquela comunidade, aquele corpo vivo, era em tudo
dirigido pelo Senhor Jesus. Juntos celebravam a ordenança da ceia, juntos
oravam, juntos liam as Escrituras e ouviam o ensino dos apóstolos, juntos
privavam na intimidade do lar, juntos se edificavam, protegiam e juntos
testemunhavam à comunidade que os admirava e que por eles nutriam simpatia
(Atos 2:72-74). Havia entre eles uma comunhão interdependente, em que todos eram
importantes na vida de todos e em que se edificavam uns aos outros. Naquela
comunidade havia um compromisso forte de serem “um” no Senhor. Não vemos na
comunidade de discípulos que Jesus fundou “freelancers espirituais”. A fé era
vivida em comunidade e cumplicidade mútua, até mesmo os apóstolos e os líderes
mais sonantes estavam ao serviço de todo o corpo e juntamente com a restante da
igreja colaboravam para edificarem toda a comunidade e cumprirem a missão do
Senhor Jesus ressurreto.
Naquela primeira igreja,
vemos o protótipo dos ensinamentos de Jesus. Era uma comunidade que soube
receber e integrar pessoas de todos os povos e de todos os grupos sociais.
Soube ultrapassar os seus preconceitos, as suas incompreensões religiosas e
culturais, fazendo dos novos membros da igreja parte do Corpo de Cristo (Atos
15). Mas o amor e a aceitação a judeus e gentios foi ensinado pelo Senhor
Jesus, que não fez aceção de pessoas durante o seu ministério. Jesus aceitou e
abençoou todas as pessoas que o queriam seguir, quer fosse uma mulher
samaritana, um possesso gadareno, um centurião romano, um cobrador de impostos
corrupto, uma pecadora apanhada em adultério, um crucificado ou uma mãe
sirofenícia clamando pela libertação da sua filha. Ricos, pobres, judeus,
gentios, pessoas relevantes e pessoas marginalizadas, todos foram aceites e
alvos da graça e misericórdia de Jesus. Jesus preocupou-se com o vinho que
faltou no casamento em Caná da Galileia, com uma menina de 12 anos que estava à
morte, bem como com uma multidão que estava sem comer.
A igreja foi ensinada
por Jesus a amar: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos
amardes uns aos outros” (Jo 13, 35) e o mundo testemunhou e registou o grande
amor da Igreja de Cristo, pois diziam os pagãos: “vede como eles se amam”.
A graça e a misericórdia
de Jesus torna a igreja numa comunidade terapêutica. Os relacionamentos
interpessoais fraternos experimentados no seio da igreja, e marcados pelo carácter
de Cristo, aperfeiçoam, santificam e regeneram a vida das pessoas em todas as
suas dimensões.
Quando o modelo de
comunhão da Trindade é experimentado na comunidade da igreja permite que cada
cristão experimente o poder restaurador do Evangelho. Como disse Larry Crabb,
“o Evangelho religa pessoas a Deus e às pessoas”.
A vontade de Jesus
expressa na sua oração “sacerdotal”, em João 17, era que a sua igreja pudesse
viver unida, como Ele era unido com o Pai. Na comunidade da igreja, as pessoas
são alimentadas espiritualmente, são ensinadas na “boa, santa e perfeita
vontade de Deus” e isso protege-as e abençoa-as. A igreja é uma comunidade
única, pois nenhuma instituição no mundo pode ter a capacidade terapêutica,
conciliadora, edificante, protetora e altruísta que a igreja tem, pois ela está
firmada em Jesus. A igreja é uma instituição que nasceu no coração de Deus e é
sustentada sobrenaturalmente pelo Senhor, pelo que jamais o inferno prevalecerá
contra ela.
É importante valorizar a
igreja. Precisamos de ter comunidades locais saudáveis que experimentem
relacionamentos fraternos moldados pelo amor e cuidado de Jesus.
A capacidade de Jesus em
aceitar pessoas, amá-las e corrigi-las, rumo à santificação, libertação e ao
gozo da vida abundante deve ser experimentado, valorizado e reconhecido como
uma expressão de adoração ensinada e exigida por Jesus. Portanto, uma igreja
não pode ser apenas um grupo de cristãos que tem em comum um templo, um culto
semanal e uma perspetiva teológica.
A Igreja de Cristo
continua a ser a comunidade comprometida com o anúncio das Boas Novas da
Salvação e em ser corpo de Cristo, família de Deus. É onde as pessoas têm
prioridade e encontram a compaixão que Jesus nos ensinou a ministrar e viver
focados, para honra e glória do Senhor.
Queremos ser uma
comunidade que, como corpo de Cristo, viva em graça, misericórdia e compaixão,
disposta a acolher, integrar e a cuidar uns dos outros.
Rui Sabino