terça-feira, 18 de setembro de 2018

Igreja: Crescimento e Missão – Crescer para dentro - Rui Sabino

A igreja que Jesus edificou (Mateus 16:18) só poderá cumprir a sua missão (Mateus 28:18-20) se for verdadeiramente corpo de Cristo. No entanto, segundo Scott Peck, “a igreja deve formar-se em comunidade para depois servir como corpo de Cristo”. Vemos uma comunidade a funcionar naquele grupo de discípulos em Jerusalém. Logo que Jesus ascendeu aos céus, e depois da descida do Espírito Santo, a igreja era uma verdadeira comunidade. “Eles tinham tudo em comum”, e nesta comunidade compreendemos na perfeição o que é ser corpo de Cristo. Aqueles cristãos viviam unidos, tinham o mesmo desejo de adorar, de servir e de cumprir em tudo a missão que haviam recebido. Aquela comunidade, aquele corpo vivo, era em tudo dirigido pelo Senhor Jesus. Juntos celebravam a ordenança da ceia, juntos oravam, juntos liam as Escrituras e ouviam o ensino dos apóstolos, juntos privavam na intimidade do lar, juntos se edificavam, protegiam e juntos testemunhavam à comunidade que os admirava e que por eles nutriam simpatia (Atos 2:72-74). Havia entre eles uma comunhão interdependente, em que todos eram importantes na vida de todos e em que se edificavam uns aos outros. Naquela comunidade havia um compromisso forte de serem “um” no Senhor. Não vemos na comunidade de discípulos que Jesus fundou “freelancers espirituais”. A fé era vivida em comunidade e cumplicidade mútua, até mesmo os apóstolos e os líderes mais sonantes estavam ao serviço de todo o corpo e juntamente com a restante da igreja colaboravam para edificarem toda a comunidade e cumprirem a missão do Senhor Jesus ressurreto.

Naquela primeira igreja, vemos o protótipo dos ensinamentos de Jesus. Era uma comunidade que soube receber e integrar pessoas de todos os povos e de todos os grupos sociais. Soube ultrapassar os seus preconceitos, as suas incompreensões religiosas e culturais, fazendo dos novos membros da igreja parte do Corpo de Cristo (Atos 15). Mas o amor e a aceitação a judeus e gentios foi ensinado pelo Senhor Jesus, que não fez aceção de pessoas durante o seu ministério. Jesus aceitou e abençoou todas as pessoas que o queriam seguir, quer fosse uma mulher samaritana, um possesso gadareno, um centurião romano, um cobrador de impostos corrupto, uma pecadora apanhada em adultério, um crucificado ou uma mãe sirofenícia clamando pela libertação da sua filha. Ricos, pobres, judeus, gentios, pessoas relevantes e pessoas marginalizadas, todos foram aceites e alvos da graça e misericórdia de Jesus. Jesus preocupou-se com o vinho que faltou no casamento em Caná da Galileia, com uma menina de 12 anos que estava à morte, bem como com uma multidão que estava sem comer.

A igreja foi ensinada por Jesus a amar: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 35) e o mundo testemunhou e registou o grande amor da Igreja de Cristo, pois diziam os pagãos: “vede como eles se amam”.

A graça e a misericórdia de Jesus torna a igreja numa comunidade terapêutica. Os relacionamentos interpessoais fraternos experimentados no seio da igreja, e marcados pelo carácter de Cristo, aperfeiçoam, santificam e regeneram a vida das pessoas em todas as suas dimensões.

Quando o modelo de comunhão da Trindade é experimentado na comunidade da igreja permite que cada cristão experimente o poder restaurador do Evangelho. Como disse Larry Crabb, “o Evangelho religa pessoas a Deus e às pessoas”.

A vontade de Jesus expressa na sua oração “sacerdotal”, em João 17, era que a sua igreja pudesse viver unida, como Ele era unido com o Pai. Na comunidade da igreja, as pessoas são alimentadas espiritualmente, são ensinadas na “boa, santa e perfeita vontade de Deus” e isso protege-as e abençoa-as. A igreja é uma comunidade única, pois nenhuma instituição no mundo pode ter a capacidade terapêutica, conciliadora, edificante, protetora e altruísta que a igreja tem, pois ela está firmada em Jesus. A igreja é uma instituição que nasceu no coração de Deus e é sustentada sobrenaturalmente pelo Senhor, pelo que jamais o inferno prevalecerá contra ela.

É importante valorizar a igreja. Precisamos de ter comunidades locais saudáveis que experimentem relacionamentos fraternos moldados pelo amor e cuidado de Jesus.

A capacidade de Jesus em aceitar pessoas, amá-las e corrigi-las, rumo à santificação, libertação e ao gozo da vida abundante deve ser experimentado, valorizado e reconhecido como uma expressão de adoração ensinada e exigida por Jesus. Portanto, uma igreja não pode ser apenas um grupo de cristãos que tem em comum um templo, um culto semanal e uma perspetiva teológica.

A Igreja de Cristo continua a ser a comunidade comprometida com o anúncio das Boas Novas da Salvação e em ser corpo de Cristo, família de Deus. É onde as pessoas têm prioridade e encontram a compaixão que Jesus nos ensinou a ministrar e viver focados, para honra e glória do Senhor.

Queremos ser uma comunidade que, como corpo de Cristo, viva em graça, misericórdia e compaixão, disposta a acolher, integrar e a cuidar uns dos outros. 

Rui Sabino