Uma análise – ainda que
superficial – da História do Homem, na perspetiva de Deus, revela-nos de
imediato uma ênfase constante na necessidade de transformação do nosso ser,
desde que o pecado surgiu na nossa vida.
Raramente encontramos a
ordem de “fazer discípulos” associada ao conceito de maturidade espiritual, ou
como fonte de santificação pessoal... No entanto é esse o enquadramento que
Jesus lhe dá (João 17:17-21). Jesus estabelece uma relação direta entre a
responsabilidade de fazer discípulos (ser enviado ao mundo) e a santificação
pessoal (como motivação principal para santificar outros). Assim, podemos
compreender melhor que o propósito de Jesus, ao entregar-nos a
responsabilidade da Grande Comissão, não era “unicamente” de “fazer
discípulos”, mas antes, que nesse processo de os “ensinar a obedecer a todas
as coisas”, nós próprios pudéssemos crescer!
A conclusão é óbvia:
Um discípulo que não “faz discípulos”, nunca vai experimentar um crescimento
real e satisfatório, porque nunca vai sentir a necessidade de buscar uma
genuína santificação, da qual depende a santificação dos outros!
“Fazer Discípulos”...
de Cristo!
Embora teoricamente este
pareça ser um ponto óbvio, acerca do qual não parece haver qualquer dúvida,
nem lugar a qualquer objeção, contudo a realidade dos factos é bem
diferente, razão pela qual fiz questão de acrescentar a expressão “... de
Cristo!”
Todo líder sinceramente
decidido a realizar um ministério cristocêntrico, que glorifique o Nome de
Cristo e não a sua pessoa, conhece a frustração de constatar que, numa
significativa maioria dos casos, a transferência (gradual e inconsciente) de
poder e autoridade, de Cristo para o líder humano, é um fenómeno comum,
decorrente da nossa natureza idólatra, herança da influência do pecado, e
sobre o qual tendemos a exercer muito pouca vigilância.
A necessidade de
colocarmos a nossa confiança em “algo” ou alguém que possamos ver e tocar,
está constantemente presente no nosso comportamento, como seres humanos em
geral, e de forma muito prática, embora quase sempre impercetível, pode ser
constantemente verificado na vida dos cristãos, seja qual fôr a sua
confissão teológica!
“Construir” discípulos
com uma estrutura psico-emocional cristocêntrica, não é apenas difícil,
como também, em muitos casos, impossível! É com muita frequência que
podemos assistir, na vida de muitos cristãos, ao desmoronamento da sua vida
espiritual, quando têm de enfrentar a sua separação de alguém que fôra,
até então, seu líder espiritual...
Este “Sindrôme de
Corinto”, contrariamente ao descrito na Bíblia, não é tão visível, nem se
revela de forma verbalmente declarada, como aquele!... E, se confrontarmos um
cristão evangélico com tal realidade, provavelmente nos dirá que “... Não
creio que isso se passe comigo...” tal é a subtileza desta tentação, uma das
que podemos classificar como um dos nossos “pecados ocultos”, camuflado de tal
forma perante a nossa consciência, que não temos qualquer hesitação em, de
forma perentória, negá-lo, enquanto simultaneamente o praticamos! Por isso
mesmo, tem sido aproveitado pelo inimigo para causar muitos estragos no seio do
povo de Deus!
“Produzir” Líderes
Se por um lado Jesus
deixa, de forma muito clara, a nossa responsabilidade em “fazer discípulos”,
fica igualmente clara qual a abrangência do ensino que devemos ministrar-lhes:
“... ensinando-os a obedecer a TODAS AS COISAS...”, bem como o facto de que,
atingir “... a medida da Estatura de Cristo...” é um Objectivo Divino que nos
inclui a todos nós, e não apenas um número restrito, integrante de uma
“hipotética elite espiritual”!...
Uma vez reposta esta
realidade, só nos resta uma vez mais, reforçar a nossa convicção de que
todos nós fomos convocados para o exercício da liderança, embora existam
diversos níveis de liderança, em função dos dons e do propósito para o
qual Deus deseja usar-nos!
A verdade implícita
nesta realidade, é óbvia! Não fomos salvos para permanecermos “unicamente”
discípulos, nem “apenas” para “fazermos” discípulos, que permanecerão
discípulos, mas todos fomos chamados a sermos líderes espirituais que se reproduzem
noutros líderes espirituais (Efésios 4).
Ser Líder de Líderes
Tanto Jesus – nosso
Modelo Supremo como Líder – como Paulo, exemplo seguro de um verdadeiro
estratega, nos mostram a importância de planear o exercício da liderança em
torno de um objectivo prioritário: o de formar novos líderes!
Podemos e devemos,
adquirir a perspetiva de que a nossa principal tarefa é “fundarmos” uma escola
de liderança, olhando cada discípulo nascido de novo como um líder em
potencial que, tal como nós, é chamado essencialmente a perseguir três
ideais, ou objectivos, ao longo da sua vida:
a) Ser discípulo –
Crescer em maturidade, buscando alcançar a Estatura de Cristo...
b) Ser servo – Exercer o
“seu” ministério, segundo os dons que O Espírito Santo lhe concedeu...
c) Ser líder – Fazer discípulos,
olhando para eles com os potenciais líderes e preparando-os para tal.
Como já devem ter
notado, goza de base bíblica a tese de que TODOS somos chamados a sermos
líderes... Pelo que, seguindo este princípio, todos nós somos chamados a ser
líderes de líderes!
Armando Alves
Armando Alves