segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Fazer Discípulos... Como Fonte de Crescimento e produto de uma consciência de Liderança - Armando Alves

Uma análise – ainda que superficial – da História do Homem, na perspetiva de Deus, revela-nos de imediato uma ênfase constante na necessidade de transformação do nosso ser, desde que o pecado surgiu na nossa vida.

Raramente encontramos a ordem de “fazer discípulos” associada ao conceito de maturidade espiritual, ou como fonte de santificação pessoal... No entanto é esse o enquadramento que Jesus lhe dá (João 17:17-21). Jesus estabelece uma relação direta entre a responsabilidade de fazer discípulos (ser enviado ao mundo) e a santificação pessoal (como motivação principal para santificar outros). Assim, podemos compreender melhor que o propósito de Jesus, ao entregar-nos a responsabilidade da Grande Comissão, não era “unicamente” de “fazer discípulos”, mas antes, que nesse processo de os “ensinar a obedecer a todas as coisas”, nós próprios pudéssemos crescer!

A conclusão é óbvia: Um discípulo que não “faz discípulos”, nunca vai experimentar um crescimento real e satisfatório, porque nunca vai sentir a necessidade de buscar uma genuína santificação, da qual depende a santificação dos outros!

“Fazer Discípulos”... de Cristo!

Embora teoricamente este pareça ser um ponto óbvio, acerca do qual não parece haver qualquer dúvida, nem lugar a qualquer objeção, contudo a realidade dos factos é bem diferente, razão pela qual fiz questão de acrescentar a expressão “... de Cristo!”

Todo líder sinceramente decidido a realizar um ministério cristocêntrico, que glorifique o Nome de Cristo e não a sua pessoa, conhece a frustração de constatar que, numa significativa maioria dos casos, a transferência (gradual e inconsciente) de poder e autoridade, de Cristo para o líder humano, é um fenómeno comum, decorrente da nossa natureza idólatra, herança da influência do pecado, e sobre o qual tendemos a exercer muito pouca vigilância.

A necessidade de colocarmos a nossa confiança em “algo” ou alguém que possamos ver e tocar, está constantemente presente no nosso comportamento, como seres humanos em geral, e de forma muito prática, embora quase sempre impercetível, pode ser constantemente verificado na vida dos cristãos, seja qual fôr a sua confissão teológica!

“Construir” discípulos com uma estrutura psico-emocional cristocêntrica, não é apenas difícil, como também, em muitos casos, impossível! É com muita frequência que podemos assistir, na vida de muitos cristãos, ao desmoronamento da sua vida espiritual, quando têm de enfrentar a sua separação de alguém que fôra, até então, seu líder espiritual...

Este “Sindrôme de Corinto”, contrariamente ao descrito na Bíblia, não é tão visível, nem se revela de forma verbalmente declarada, como aquele!... E, se confrontarmos um cristão evangélico com tal realidade, provavelmente nos dirá que “... Não creio que isso se passe comigo...” tal é a subtileza desta tentação, uma das que podemos classificar como um dos nossos “pecados ocultos”, camuflado de tal forma perante a nossa consciência, que não temos qualquer hesitação em, de forma perentória, negá-lo, enquanto simultaneamente o praticamos! Por isso mesmo, tem sido aproveitado pelo inimigo para causar muitos estragos no seio do povo de Deus!

“Produzir” Líderes

Se por um lado Jesus deixa, de forma muito clara, a nossa responsabilidade em “fazer discípulos”, fica igualmente clara qual a abrangência do ensino que devemos ministrar-lhes: “... ensinando-os a obedecer a TODAS AS COISAS...”, bem como o facto de que, atingir “... a medida da Estatura de Cristo...” é um Objectivo Divino que nos inclui a todos nós, e não apenas um número restrito, integrante de uma “hipotética elite espiritual”!...

Uma vez reposta esta realidade, só nos resta uma vez mais, reforçar a nossa convicção de que todos nós fomos convocados para o exercício da liderança, embora existam diversos níveis de liderança, em função dos dons e do propósito para o qual Deus deseja usar-nos!
A verdade implícita nesta realidade, é óbvia! Não fomos salvos para permanecermos “unicamente” discípulos, nem “apenas” para “fazermos” discípulos, que permanecerão discípulos, mas todos fomos chamados a sermos líderes espirituais que se reproduzem noutros líderes espirituais (Efésios 4).

Ser Líder de Líderes

Tanto Jesus – nosso Modelo Supremo como Líder – como Paulo, exemplo seguro de um verdadeiro estratega, nos mostram a importância de planear o exercício da liderança em torno de um objectivo prioritário: o de formar novos líderes!

Podemos e devemos, adquirir a perspetiva de que a nossa principal tarefa é “fundarmos” uma escola de liderança, olhando cada discípulo nascido de novo como um líder em potencial que, tal como nós, é chamado essencialmente a perseguir três ideais, ou objectivos, ao longo da sua vida:

a) Ser discípulo – Crescer em maturidade, buscando alcançar a Estatura de Cristo...
b) Ser servo – Exercer o “seu” ministério, segundo os dons que O Espírito Santo lhe concedeu...
c) Ser líder – Fazer discípulos, olhando para eles com os potenciais líderes e preparando-os para tal.

Como já devem ter notado, goza de base bíblica a tese de que TODOS somos chamados a sermos líderes... Pelo que, seguindo este princípio, todos nós somos chamados a ser líderes de líderes!

Armando Alves