A visão de crescimento da igreja, nos seus vários conceitos, e o
cumprimento da Missão de Deus, anunciada no Éden (Gn 3:15), profetizada pelos
profetas e entregue à igreja por Jesus na chamada “Grande Comissão” (Mateus
28:18-20), tem passado, ao longo da história do Cristianismo, por pequenos grupos
de cristãos que se reúnem nos lares com vista a adoração. Estes pequenos grupos
tem o mérito de potenciar o sacerdócio de todos os crentes.
Na cultura portuguesa, as igrejas estão muito reféns das ideias católicas
do clero, do dia sagrado e do templo. O povo português vê os elementos do clero
como os executantes religiosos e litúrgicos da igreja. Vê também o templo como
a própria igreja. Essa visão divorcia as pessoas da vivência da fé. Embora
existam diferenças muito grandes entre a igreja católica e as igrejas
evangélicas, também existe esta visão de clero, de vida cristã no templo e em
certos dias especiais, no contexto evangélico.
O ministério da “Nação Santa, do Reino de Sacerdotes”, deve ser exercido
por todos aqueles que foram salvos em Jesus. Deus, com o Seu Santo Espírito,
capacitou todos os seus filhos para fazer parte da missão de Deus, tanto na
adoração como no cumprimento da Missão, e todos são agentes ativos no
crescimento da Igreja e do Reino de Deus.
A igreja deve ser uma comunidade onde se aprende a viver na perspetiva da
graça e misericórdia de Jesus. Deste modo, poderá desenvolver-se como uma
comunidade terapêutica e restauradora.
Os pequenos grupos promovem a intimidade e a possibilidade de que os seus
participantes experimentem a verdadeira comunhão cristã. É impossível ser
íntimo de uma multidão, mas é normal que num pequeno grupo se estabeleçam
relacionamentos fortes e intensos, que cuidem e restaurem vidas.
No pequeno grupo é possível viver e definir valores, tomar decisões e pedir
contas das mesmas, viver a intimidade cristã e a comunhão interdependente –
Koinonia. Os pequenos grupos permitem que o encontro cristão seja vivido à
semelhança de Atos 2, onde a palavra “irmão” passa a ganhar um sentido mais
profundo.
A comunhão da igreja em volta da Palavra e da partilha da vida, do dia a
dia, gera o discipulado cristão. Ali, no pequeno grupo, os cristãos tornam-se
discípulos amadurecidos e compreendem o crescimento integral da igreja - o seu
relacionamento com Deus, o seu relacionamento com a comunidade da igreja e o
desejo de fazer parte da missão de Deus. A comunhão do pequeno grupo permite o
ensino teórico da Palavra e a experiência da vida cristã demonstrada na vida de
outros irmãos que vivem na sua proximidade.
Os pequenos grupos promovem líderes experimentados e capazes. Líderes que
capacitam a igreja a pôr em prática os dons de Deus. A igreja que depende só do
seu pastor ficará atrofiada e com dificuldades naturais para se multiplicar.
Os pequenos grupos fortificam e protegem a igreja, uma vez que promovem o
pastoreio mútuo. É difícil tomar conta de todas as ovelhas dentro de uma
congregação média em Portugal. Os pequenos grupos têm a comunidade sob
vigilância e cuidado. Vivem a comunhão, experimentam a intimidade, estão perto e
presentes nos momentos importantes da vida. Enfim, no pequeno grupo quebra-se
um paradigma do pastorado pelo clero e distribui-se pela comunidade, que
aprende a vigiar, cuidar e fortalecer o seu irmão na fé.
Os pequenos grupos fazem sobressair a diversidade de dons que existe na
igreja. Concedem oportunidade a todos os crentes para exercê-los, para glória
do Senhor e edificação da igreja. Os pequenos grupos geram uma cumplicidade
comprometida entre a comunidade da igreja, que se transforma, na prática, no Corpo
de Cristo, ágil e saudável.
Os pequenos grupos, sendo a igreja nos lares ou reunida noutros pequenos
espaços, tem como propósito natural e intrínseco revelar a salvação em Jesus.
Os lares têm sido instrumentos preciosos na prática da evangelização. Jesus, no
lar de Zaqueu, revelou a sua missão “vim buscar e salvar o perdido!”. A igreja
cresce em toda a dinâmica do pequeno grupo, na sua fidelidade e devoção ao
Senhor.
O estudo da Palavra, a comunhão íntima, o serviço e desenvolvimento dos
dons, a formação de liderança, o discipulado, o testemunho evangelístico, o
zelo e a devoção da adoração tornam os lares em pequenas “embaixadas” do Reino
de Deus.
Podemos concluir que a igreja nos lares potencia o crescimento da igreja
“para cima, para dentro e para fora”, pois a intimidade do lar aprofunda a
relação da igreja com Deus, aproxima e estabelece laços fraternais entre os
irmãos e desenvolve um ardor evangelístico que encontramos na igreja primitiva,
no desejo de cumprir a Missão redentora de Deus.
Rui Sabino