quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Crescimento e Missão: Grupos Familiares - Rui Sabino

A visão de crescimento da igreja, nos seus vários conceitos, e o cumprimento da Missão de Deus, anunciada no Éden (Gn 3:15), profetizada pelos profetas e entregue à igreja por Jesus na chamada “Grande Comissão” (Mateus 28:18-20), tem passado, ao longo da história do Cristianismo, por pequenos grupos de cristãos que se reúnem nos lares com vista a adoração. Estes pequenos grupos tem o mérito de potenciar o sacerdócio de todos os crentes.

Na cultura portuguesa, as igrejas estão muito reféns das ideias católicas do clero, do dia sagrado e do templo. O povo português vê os elementos do clero como os executantes religiosos e litúrgicos da igreja. Vê também o templo como a própria igreja. Essa visão divorcia as pessoas da vivência da fé. Embora existam diferenças muito grandes entre a igreja católica e as igrejas evangélicas, também existe esta visão de clero, de vida cristã no templo e em certos dias especiais, no contexto evangélico.

O ministério da “Nação Santa, do Reino de Sacerdotes”, deve ser exercido por todos aqueles que foram salvos em Jesus. Deus, com o Seu Santo Espírito, capacitou todos os seus filhos para fazer parte da missão de Deus, tanto na adoração como no cumprimento da Missão, e todos são agentes ativos no crescimento da Igreja e do Reino de Deus.

A igreja deve ser uma comunidade onde se aprende a viver na perspetiva da graça e misericórdia de Jesus. Deste modo, poderá desenvolver-se como uma comunidade terapêutica e restauradora.

Os pequenos grupos promovem a intimidade e a possibilidade de que os seus participantes experimentem a verdadeira comunhão cristã. É impossível ser íntimo de uma multidão, mas é normal que num pequeno grupo se estabeleçam relacionamentos fortes e intensos, que cuidem e restaurem vidas.

No pequeno grupo é possível viver e definir valores, tomar decisões e pedir contas das mesmas, viver a intimidade cristã e a comunhão interdependente – Koinonia. Os pequenos grupos permitem que o encontro cristão seja vivido à semelhança de Atos 2, onde a palavra “irmão” passa a ganhar um sentido mais profundo.

A comunhão da igreja em volta da Palavra e da partilha da vida, do dia a dia, gera o discipulado cristão. Ali, no pequeno grupo, os cristãos tornam-se discípulos amadurecidos e compreendem o crescimento integral da igreja - o seu relacionamento com Deus, o seu relacionamento com a comunidade da igreja e o desejo de fazer parte da missão de Deus. A comunhão do pequeno grupo permite o ensino teórico da Palavra e a experiência da vida cristã demonstrada na vida de outros irmãos que vivem na sua proximidade.

Os pequenos grupos promovem líderes experimentados e capazes. Líderes que capacitam a igreja a pôr em prática os dons de Deus. A igreja que depende só do seu pastor ficará atrofiada e com dificuldades naturais para se multiplicar.

Os pequenos grupos fortificam e protegem a igreja, uma vez que promovem o pastoreio mútuo. É difícil tomar conta de todas as ovelhas dentro de uma congregação média em Portugal. Os pequenos grupos têm a comunidade sob vigilância e cuidado. Vivem a comunhão, experimentam a intimidade, estão perto e presentes nos momentos importantes da vida. Enfim, no pequeno grupo quebra-se um paradigma do pastorado pelo clero e distribui-se pela comunidade, que aprende a vigiar, cuidar e fortalecer o seu irmão na fé.

Os pequenos grupos fazem sobressair a diversidade de dons que existe na igreja. Concedem oportunidade a todos os crentes para exercê-los, para glória do Senhor e edificação da igreja. Os pequenos grupos geram uma cumplicidade comprometida entre a comunidade da igreja, que se transforma, na prática, no Corpo de Cristo, ágil e saudável.

Os pequenos grupos, sendo a igreja nos lares ou reunida noutros pequenos espaços, tem como propósito natural e intrínseco revelar a salvação em Jesus. Os lares têm sido instrumentos preciosos na prática da evangelização. Jesus, no lar de Zaqueu, revelou a sua missão “vim buscar e salvar o perdido!”. A igreja cresce em toda a dinâmica do pequeno grupo, na sua fidelidade e devoção ao Senhor.

O estudo da Palavra, a comunhão íntima, o serviço e desenvolvimento dos dons, a formação de liderança, o discipulado, o testemunho evangelístico, o zelo e a devoção da adoração tornam os lares em pequenas “embaixadas” do Reino de Deus.

Podemos concluir que a igreja nos lares potencia o crescimento da igreja “para cima, para dentro e para fora”, pois a intimidade do lar aprofunda a relação da igreja com Deus, aproxima e estabelece laços fraternais entre os irmãos e desenvolve um ardor evangelístico que encontramos na igreja primitiva, no desejo de cumprir a Missão redentora de Deus. 

Rui Sabino