quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Implementando uma Cultura de Discipulado na Igreja Pós-moderna - Armando Alves

No artigo anterior vimos que existe uma relação direta entre três fatores da vida de um discípulo: “Fazer discípulos”, santificação e liderança. Face a esta realidade, precisamos perguntar de forma muito honesta e transparente: Quais os critérios que usamos na atribuição de liderança na Igreja local?

1. Dentre esses critérios, está incluída a condição de o potencial líder demonstrar um estilo de vida intencional em “fazer discípulos” e já ter “feito”, pelo menos, um discípulo no decurso da sua vida cristã?

2. Dentre esses critérios, está incluída a constatação de um crescimento evidente e contínuo, nas dimensões fundamentais do ser – cognitiva, psico-emocional e relacional – como evidência de uma maturidade espiritual genuína, fruto de uma real intimidade com Deus?

3. Dentre esses critérios, está incluída a constatação da existência de um espírito de servo (não apenas o desejo de servir), com a correspondente atitude de humildade genuína que costuma acompanhá-lo (implica estar recetivo a ser corrigido, e desejar aprender sempre)?
Finalmente, “em jeito” de teste ao nosso conceito de liderança, talvez seja interessante perguntarmos:

- Se tivermos de retirar a liderança a todos os que não preenchem os três critérios atrás referidos, quantos ficariam?

Na verdade, não existe nenhuma garantia, de que aquilo a que chamamos “liderança”, na Igreja pós-moderna, seja aquilo que Deus entende por liderança no contexto do Seu Reino. Nós não encontramos na Bíblia a expressão “líder”.

E o que Jesus coloca em Mateus 20:26,27 e 23:11,12 não é a questão da liderança, mas antes das atitudes a que uma posição de liderança pode conduzir. Daí, a necessidade de compreendermos que, para Jesus, o líder é o servo, e sem esse espírito de servo, não existe uma genuína liderança. Por oposição, Jesus afirma que não veio “para ser servido, mas para servir”, e Ele interpreta esse serviço como algo que é feito até às últimas consequências, em benefício daqueles que Ele veio servir. Assim, os fatores “Amor” e “Altruísmo” estão incluídos no processo de liderança, sendo que o Amor implica um investimento na libertação e reconstrução da pessoa , à Imagem de Cristo, bem como o seu progresso ministerial e crescimento em todas as dimensões do ser. O que acabamos de afirmar, é uma forma de descrever, por outras palavras, aquilo a que chamamos “Grande Comissão. E quando nós, como discípulos, estamos comprometidos com esta tarefa, então somos realmente líderes no contexto do Reino de Deus.

Face ao que temos visto, na verdade todo o discípulo nascido de novo foi chamado para ser líder, mas nem todos estão a sê-lo, na medida em que nem todos estão envolvidos com a Grande Comissão. Daí, à luz dos três critérios que atrás vimos, perguntamos:

1. Será correto nomearmos, para a liderança das “nossas” Igrejas e instituições, pessoas que não se enquadram nos critérios?

2. Será que, se começarmos a requerer das pessoas estes critérios, como condição sine qua non, para a sua nomeação como líderes, algo irá mudar nas “nossas” Igrejas e instituições e no panorama Baptista a nível nacional? Ou talvez não?... Só Deus sabe!

Seja como for, creio que temos o dever de começarmos a ser bíblicos, levando o ponto de vista de Deus a sério, em todos os assuntos, e acerca desta questão em particular. Temos a responsabilidade de ensinar estes critérios e implementar uma filosofia ministerial que lhes corresponda e lhes seja fiel.

Para Deus, ser um líder não é ocupar um cargo na “estrutura” organizativa da Igreja local, ou numa organização. Para Deus, no contexto do Seu Reino, ser líder não é ESTAR, mas SER(VIR). Entre nós, temos aqueles que já estão a SER(VIR)... E também temos aqueles podem VIR a SER...

Armando Alves