No artigo anterior vimos que existe uma relação direta entre três
fatores da vida de um discípulo: “Fazer discípulos”, santificação e
liderança. Face a esta realidade, precisamos perguntar de forma muito honesta
e transparente: Quais os critérios que usamos na atribuição de liderança na
Igreja local?
1. Dentre esses critérios, está incluída a condição de o potencial
líder demonstrar um estilo de vida intencional em “fazer discípulos” e já
ter “feito”, pelo menos, um discípulo no decurso da sua vida cristã?
2. Dentre esses critérios, está incluída a constatação de um
crescimento evidente e contínuo, nas dimensões fundamentais do ser –
cognitiva, psico-emocional e relacional – como evidência de uma maturidade
espiritual genuína, fruto de uma real intimidade com Deus?
3. Dentre esses critérios, está incluída a constatação da existência
de um espírito de servo (não apenas o desejo de servir), com a correspondente
atitude de humildade genuína que costuma acompanhá-lo (implica estar recetivo
a ser corrigido, e desejar aprender sempre)?
Finalmente, “em jeito” de teste ao nosso conceito de liderança, talvez
seja interessante perguntarmos:
- Se tivermos de retirar a liderança a todos os que não preenchem os três
critérios atrás referidos, quantos ficariam?
Na verdade, não existe nenhuma garantia, de que aquilo a que chamamos
“liderança”, na Igreja pós-moderna, seja aquilo que Deus entende por
liderança no contexto do Seu Reino. Nós não encontramos na Bíblia a
expressão “líder”.
E o que Jesus coloca em Mateus 20:26,27 e 23:11,12 não é a questão da
liderança, mas antes das atitudes a que uma posição de liderança pode
conduzir. Daí, a necessidade de compreendermos que, para Jesus, o líder é o
servo, e sem esse espírito de servo, não existe uma genuína liderança. Por
oposição, Jesus afirma que não veio “para ser servido, mas para servir”, e
Ele interpreta esse serviço como algo que é feito até às últimas
consequências, em benefício daqueles que Ele veio servir. Assim, os fatores
“Amor” e “Altruísmo” estão incluídos no processo de liderança, sendo que o
Amor implica um investimento na libertação e reconstrução da pessoa , à
Imagem de Cristo, bem como o seu progresso ministerial e crescimento em todas
as dimensões do ser. O que acabamos de afirmar, é uma forma de descrever, por
outras palavras, aquilo a que chamamos “Grande Comissão. E quando nós, como
discípulos, estamos comprometidos com esta tarefa, então somos realmente
líderes no contexto do Reino de Deus.
Face ao que temos visto, na verdade todo o discípulo nascido de novo foi
chamado para ser líder, mas nem todos estão a sê-lo, na medida em que nem
todos estão envolvidos com a Grande Comissão. Daí, à luz dos três
critérios que atrás vimos, perguntamos:
1. Será correto nomearmos, para a liderança das “nossas” Igrejas e
instituições, pessoas que não se enquadram nos critérios?
2. Será que, se começarmos a requerer das pessoas estes critérios, como
condição sine qua non, para a sua nomeação como líderes, algo irá mudar
nas “nossas” Igrejas e instituições e no panorama Baptista a nível nacional?
Ou talvez não?... Só Deus sabe!
Seja como for, creio que temos o dever de começarmos a ser bíblicos,
levando o ponto de vista de Deus a sério, em todos os assuntos, e acerca desta
questão em particular. Temos a responsabilidade de ensinar estes critérios e
implementar uma filosofia ministerial que lhes corresponda e lhes seja fiel.
Para Deus, ser um líder não é ocupar um cargo na “estrutura”
organizativa da Igreja local, ou numa organização. Para Deus, no contexto do
Seu Reino, ser líder não é ESTAR, mas SER(VIR). Entre nós, temos aqueles
que já estão a SER(VIR)... E também temos aqueles podem VIR a SER...
Armando Alves
Armando Alves