segunda-feira, 16 de julho de 2018

O lugar dos mais novos no ministério de Jesus: plano ministerial e missiológico - Teotónio Cavaco

No plano ministerial, o Mestre Jesus surpreendeu os seus discípulos ao chamar um menino para o meio deles e desta forma responder à grande pergunta teológica – “Quem é o maior no reino dos céus?”, assegurando a necessidade redentora de todos nos convertermos e tornamo-nos como crianças para desta forma ser possível entrarmos no reino dos céus.

As lições tiradas do episódio narrado por Mateus no capítulo 18 são muitas e profundas para nos determos aqui. Jesus era Pastor do Rebanho todo e no plano ministerial não deixou ninguém de fora, nem mesmo os mais novos. O cuidado e o carinho que mostrou por eles, a sua envolvência e intencionalidade, ora recebendo-os nos seus braços, ora abençoando-os, deixou marcas na visão que os seus discípulos haveriam de mostrar no desempenho dos seus próprios ministérios, razão porque podemos verificar a presença de crianças em alguns episódios narrados por Lucas em Actos, capítulos 12, 20 e outras partes da história dos primórdios da igreja.

O exemplo que manifestou no cuidado pastoral dos mais novos acabou por ser entendido por parte dos seus discípulos. Em duas alturas diferentes Ele afirmou – “...sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25.40) e “quem receber uma criança, tal como esta, a Mim me recebe” (Mateus 18.5). Esta identificação com os mais novos no Rebanho, à semelhança de Jesus, talvez deva ser uma meta mais conseguida por parte dos pastores e líderes, no cuidado parecido com aquele que existiu no Mestre.

No plano missiológico, há 3 passagens bíblicas de referência que são esquecidas, em grande parte, quando falamos da tarefa cuidada da evangelização do mundo, e que inclui a urgência de fazê-la com a inclusão dos mais novos:

- Mateus 28.19-20 – Jesus inclui todos na tarefa que deixou aos apóstolos e discípulos; a ordem é para ir, fazer discípulos, batizá-los e ensiná-los em todo o lugar e a toda a gente. Um plano de alcance cuidado deverá incluir também estratégias sérias ligadas ao alcance dos mais novos;

- Marcos 16.15 – As palavras “todo o mundo” e “toda a criatura” coloca todos dentro da missão, sem qualquer exclusão, o que significa que a missão deve estar permeada por todos os beneficiários dessa mesma missão. E isso significa todos, incluindo os mais novos;

- João 20.15 – Eu sou dos que acredito que na conversa que Jesus tem com Pedro Ele está a renovar o sentido de missão que tinha dado conjuntamente na passagem de Mateus 18.1-14. E agora o faz na pessoa de Pedro, numa clara chamada de atenção em relação aos “cordeiros”, que outra coisa não são que os mais novos no Rebanho. Creio, até, que é por essa razão que vamos encontrar nos registos de Actos uma comunidade cristã onde os mais novos não faltam, como intervenientes diretos em episódios que Lucas registou.

Sem dúvida alguma, a visão do Mestre comunicada no episódio de Mateus 18 foi apreendida e agora renovada na visão dada a Pedro a respeito dos mais novos, pois se os preconceitos em relação aos gentios eram evidentes, como no caso de Actos 10, imaginem em relação aos mais novos.

Há uma estratégia do Mestre em reforçar a necessidade dos seus discípulos olharem para o Rebanho como um todo, pois esta era já evidência do Deus de Israel, quando nos tempos de Moisés, para a observância da Lei era necessário – “Ajuntai o povo: os homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam o Senhor, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei” (Deuteronómio 31.11-13).

Não será necessário que os líderes cristãos reconsiderem as palavras afirmativas de Jesus – “apascenta os meus cordeiros”? Eu creio que as comunidades cristãs só têm a ganhar se os pastores se preocuparem em ministrar ao Rebanho como um todo. Doutra forma, deixaria de fazer sentido a referência de Jesus dada a Pedro no seu último encontro pessoal na praia do mar de Tiberíades.


Teotónio Cavaco