No plano ministerial, o
Mestre Jesus surpreendeu os seus discípulos ao chamar um menino para o meio
deles e desta forma responder à grande pergunta teológica – “Quem é o maior
no reino dos céus?”, assegurando a necessidade redentora de todos nos
convertermos e tornamo-nos como crianças para desta forma ser possível
entrarmos no reino dos céus.
As lições tiradas do
episódio narrado por Mateus no capítulo 18 são muitas e profundas para nos
determos aqui. Jesus era Pastor do Rebanho todo e no plano ministerial não
deixou ninguém de fora, nem mesmo os mais novos. O cuidado e o carinho que
mostrou por eles, a sua envolvência e intencionalidade, ora recebendo-os nos
seus braços, ora abençoando-os, deixou marcas na visão que os seus
discípulos haveriam de mostrar no desempenho dos seus próprios ministérios,
razão porque podemos verificar a presença de crianças em alguns episódios
narrados por Lucas em Actos, capítulos 12, 20 e outras partes da história dos
primórdios da igreja.
O exemplo que manifestou
no cuidado pastoral dos mais novos acabou por ser entendido por parte dos seus
discípulos. Em duas alturas diferentes Ele afirmou – “...sempre que o fizestes
a um destes meus pequeninos irmãos, a Mim o fizestes” (Mateus 25.40) e “quem
receber uma criança, tal como esta, a Mim me recebe” (Mateus 18.5). Esta
identificação com os mais novos no Rebanho, à semelhança de Jesus, talvez deva
ser uma meta mais conseguida por parte dos pastores e líderes, no cuidado
parecido com aquele que existiu no Mestre.
No plano missiológico,
há 3 passagens bíblicas de referência que são esquecidas, em grande parte,
quando falamos da tarefa cuidada da evangelização do mundo, e que inclui a
urgência de fazê-la com a inclusão dos mais novos:
- Mateus 28.19-20 –
Jesus inclui todos na tarefa que deixou aos apóstolos e discípulos; a ordem
é para ir, fazer discípulos, batizá-los e ensiná-los em todo o lugar e a
toda a gente. Um plano de alcance cuidado deverá incluir também estratégias
sérias ligadas ao alcance dos mais novos;
- Marcos 16.15 – As
palavras “todo o mundo” e “toda a criatura” coloca todos dentro da missão, sem
qualquer exclusão, o que significa que a missão deve estar permeada por todos
os beneficiários dessa mesma missão. E isso significa todos, incluindo os
mais novos;
- João 20.15 – Eu sou
dos que acredito que na conversa que Jesus tem com Pedro Ele está a renovar o
sentido de missão que tinha dado conjuntamente na passagem de Mateus 18.1-14.
E agora o faz na pessoa de Pedro, numa clara chamada de atenção em relação
aos “cordeiros”, que outra coisa não são que os mais novos no Rebanho. Creio,
até, que é por essa razão que vamos encontrar nos registos de Actos uma
comunidade cristã onde os mais novos não faltam, como intervenientes diretos
em episódios que Lucas registou.
Sem dúvida alguma, a
visão do Mestre comunicada no episódio de Mateus 18 foi apreendida e agora renovada
na visão dada a Pedro a respeito dos mais novos, pois se os preconceitos em relação
aos gentios eram evidentes, como no caso de Actos 10, imaginem em relação aos
mais novos.
Há uma estratégia do
Mestre em reforçar a necessidade dos seus discípulos olharem para o Rebanho
como um todo, pois esta era já evidência do Deus de Israel, quando nos tempos
de Moisés, para a observância da Lei era necessário – “Ajuntai o povo: os
homens, as mulheres, os meninos e o estrangeiro que está dentro da vossa
cidade, para que ouçam, e aprendam, e temam o Senhor, vosso Deus, e cuidem de cumprir
todas as palavras desta lei” (Deuteronómio 31.11-13).
Não será necessário
que os líderes cristãos reconsiderem as palavras afirmativas de Jesus –
“apascenta os meus cordeiros”? Eu creio que as comunidades cristãs só têm a
ganhar se os pastores se preocuparem em ministrar ao Rebanho como um todo.
Doutra forma, deixaria de fazer sentido a referência de Jesus dada a Pedro no
seu último encontro pessoal na praia do mar de Tiberíades.
Teotónio Cavaco