sábado, 30 de junho de 2018

A identidade segura de quem serve - Um olhar ao líder servo de João 13 - Miguel Jerónimo

O episódio em que Jesus lava os pés aos Seus discípulos na Última Ceia é provavelmente um dos episódios mais chocantes e mais inspiradores de toda a Bíblia.

A tarefa em si, tão comum e necessária mas tão desprestigiante que nenhum judeu a faria, estava reservada aos escravos, só que naquele dia não havia ali nenhum e todos os discípulos escolheram ignorar esse facto, com a esperança que Jesus não mencionasse essa falha da parte deles.

Mas Jesus reparou nessa falha, só que viu uma oportunidade de ouro para demonstrar de forma prática que “o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir” (Marcos 10:45 ARA)  e para que eles entendessem de uma vez por todas que os padrões de liderança e autoridade do mundo não são os do Seu Reino, mas que “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva” (Marcos 10:43 ARA).

A abordagem daquela época (e dos nossos dias também!) à posição social, é de que o objetivo é chegar ao topo e lá permanecer. Jesus no entanto, que já era rabi, mestre e professor, rebaixa-se subitamente, literalmente até ao chão, e assume a condição de escravo, invertendo toda a ordem social.[1] E o que é interessante é que Ele fá-lo sem que isso afete a Sua identidade!

Antes e depois do episódio da lavagem dos pés, a Bíblia diz-nos claramente que Jesus sabia perfeitamente quem era, e queria que os discípulos também o soubessem, porque a grande lição estava dependente disso. Se Jesus fosse o menor de entre eles, então a lavagem dos pés perdia todo o impacto e ensino nela contido.

Antes de Jesus se levantar da mesa, temos a oportunidade de “ver” a sua mente e o que vemos é que Ele sabia de onde vinha, para onde ia, e toda a autoridade que o Pai Lhe tinha conferido. Ao tomar de volta o lugar na mesa, Jesus faz questão de se afirmar como O Mestre e O Senhor, não um mestre qualquer, não um senhor qualquer, mas O único e supremo.

E nisto estava a principal lição: se Ele era o maior naquela mesa, se Ele era quem Ele afirmava ser, quem os discípulos criam que Ele era, e ainda assim se rebaixou e os serviu daquela forma, que desculpa eles poderiam usar para não o fazer? “Se eu sendo o Senhor e o Mestre vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros” (João 13:14).

Só alguém seguro da sua identidade, como Jesus era, pode se colocar sem qualquer problema numa posição de servo perante os outros, pois sabe que isso em nada o diminui ou mina a sua autoridade. Diria até que essa atitude de serviço, essa liderança pelo serviço, é de facto a prova que sabemos que não somos senhores de nada, que nenhuma autoridade que nos foi dada é nossa por inerência ou merecimento, mas graça Daquele que tudo nos dá.

Miguel Jerónimo



[1] YANCEY, Philip O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Editora Vida, 1998.