Como é do conhecimento
geral, Jesus usou as parábolas para ensinar princípios complicados de forma
fácil. E uma das áreas que Ele mais focou nessas parábolas foi o ensino acerca
do Reino de Deus. Das cerca de 40 parábolas, 21 falam do Reino de Deus.
Estas 21 parábolas têm
o condão de poder responder a muitas perguntas que, de outra forma, seria
muito difícil o ser humano entender. Conceitos de justiça, de perdão, de
relacionamento entre os seres criados como homem e mulher. De alguma forma
Jesus tentou ensinar de forma fácil e fazer passar a mensagem que no Reino do
Pai tudo está preparado para nos receber quando ali chegarmos, para vivermos
uma vida plena de felicidade, amor e paz afinal os sentimentos que tantos
procuram alcançar aqui nesta terra, mas que já todos compreendemos que é
impossível fazê-lo na plenitude.
Neste primeiro texto vou
destacar a parábola do rico e de Lázaro, o pobre mendigo que deseja comer as
migalhas que caem da mesa do primeiro, que vive humanamente falando de uma
forma miserável, mas que não se queixa (não há registo disso), não
protesta com o rico por o desprezar (também não há registo disso) e nem lhe
deseja mal. A situação é-nos descrita por Lucas (Lc 16:19-21) de uma forma
tão desumana que só de pensar na imagem já ficamos incomodados, ao ponto de
sentirmos que deveríamos intervir e mudar o quadro.
Mas ele não pode ser
mudado e o desfecho da parábola tem o essencial dela: os ensinos acerca do
Reino. Lázaro e o rico, cujo nome se desconhece[1]
e que está no Hades, no lugar dos mortos, tem consciência, conhecimento do
seu estado, desespero pela situação trágica em que se encontra, deseja ter
uma gota daquilo que agora Lázaro usufrui, preocupa-se com os seus que estão
ainda na terra e que, segundo ele, alertados, evitarão ir para aquele lugar
trágico. Percebe que não vai poder sair dali, os ‘outros’ com quem Lázaro
está, estão muito longe e são inacessíveis; agora é ele que tem um
sofrimento atroz, a esperança de alteração de situação não existe, o
tempo de permanência ali é infindável... Tantos ensinos numa simples
história que amarra a atenção de qualquer um, que faz parar e pensar nos
profundos e sérios ensinos que Jesus deixou apenas numa simples parábola.
Saliento apenas duas
curiosidades nesta parábola. A primeira é que Lázaro não fala com o rico
depois da morte. O texto frisa sempre Abraão como aquele que responde e
argumenta com o rico. Pergunto-me a mim próprio o porquê. Será que em vida o
rico não falava com Lázaro por desprezo, mesmo que este o instasse a isso?...
Não sei, fica a questão.
A segunda é que o
ensino daqueles que defendem o vai vem de espíritos entre o céu e a terra,
cai completamente por... terra. Nem para cometer a boa acção de ir avisar os
parentes (Lc 16:27-28).
Ensinos extraordinários
ditos de uma forma tão simples, só mesmo com a sabedoria de um Ser único:
Jesus Cristo.
Alberto Carneiro
[1] Coisa que seria
impossível de acontecer pelos padrões humanos... desconhecer o nome do pobre
está bem, agora o do rico...