O isolamento e a
exclusão provavelmente são dos piores males da nossa sociedade. Vivemos num
mundo em que temos a possibilidade de comunicar com qualquer pessoa no planeta,
mas sentimo-nos cada vez mais sozinhos. Desde crianças que tentamos pertencer
a algum grupo, ser aceites tentando encaixarmo-nos em algum lugar, mas a
verdade é que cada vez nos sentimos mais perdidos, menos aceites e mais
isolados.
A Bíblia relata-nos
acerca da vida de uma mulher que sabia muito bem o que significava tudo o que
acabei de descrever e provavelmente, mais... muito mais! O evangelista Marcos
(Mc 5:25-34), descreve-a sofrendo de uma doença, um fluxo de sangue que não
cessava. De acordo com a cultura judaica esta mulher encontrava-se impura. A
impureza separava o Homem de Deus (adoração e comunhão tornavam-se
impossíveis).
Em Levítico 15:19-27
podemos verificar que esta mulher “todos os dias do fluxo será imunda” (v.25),
“que qualquer que a tocar será imundo até à tarde” (v.19), o que coabitar
com ela, ou até sentar/deitar nos lugares onde ela se sentou ficaria
cerimonialmente impuro. Se acrescermos a ideia de que os judeus acreditavam que
a doença era resultado do castigo de Deus, por causa de pecado não
confessado, podemos imaginar um pouco do isolamento que ela vivia.
Provavelmente não teria conseguido constituir uma família, ou talvez o marido
a tenha deixado, não teria amigos e não poderia ir a uma sinagoga ou ao
templo.
Excluída da sociedade
judaica do primeiro século, e tendo recorrido a várias formas de tratar a sua
doença, nunca conseguiu tratamento adequado, antes pelo contrário, tinha
piorado e gasto as economias de uma vida. Estava desesperada, sozinha, fraca,
provavelmente deprimida e tendo ouvido a fama de Jesus resolve dar o último
passo e ir ao encontro do Mestre.
Provavelmente ela
saberia que Cristo tinha curado outras pessoas e resolveu tentar. Debaixo do
anonimato da multidão que apertava cada vez mais Jesus e os seus discípulos,
a mulher seguiu determinada e esperançosa até agarrar a veste de Cristo.
Alguns paradigmas ela teve que derrubar, ser mulher e tocar num homem, o estar
impura e tocar num mestre. Imediatamente, ela foi curada da sua doença. E a
atitude de Jesus diante deste acontecimento é sobremaneira incrível, sublime,
excelente. Jesus buscou, diante da perplexidade dos seus discípulos, quem lhe
tinha tocado com fé. Jesus olha para uma pessoa na multidão, deseja ter um
relacionamento.
A mulher apesar do medo
das consequências que podiam advir da sua ousadia, prostra-se diante de Jesus
e declara-lhe o que tinha acontecido. Jesus não restaura só a saúde desta
mulher, Ele exalta sua fé, restaura a sua identidade, a sua posição na
sociedade. Jesus a vê como uma pessoa, Ele olha para o interior. O versículo
34 é soberbo. Jesus a trata por filha, é o único relato em que Jesus trata
uma mulher desta forma, incluindo-a na família de Deus.
Agora ela era alguém,
já não estava mais excluída de todas as estruturas sociais vigentes. Ela já
não era invisível para os outros, ou indesejada, ela é valorizada, ela agora
está curada, podendo voltar à sua comunidade, refazer a sua vida. A fé desta
mulher fez com ela fosse curada fisicamente, mas isso é unicamente resultado
da salvação espiritual ocorrida. Após doze anos de sofrimento, inquietude,
turbulência Jesus trouxe bem-estar, tranquilidade, harmonia à vida desta
mulher.
Deus criou-nos com o propósito de nos relacionarmos, deu-nos valor, concede-nos uma identidade, transforma a nossa vida. Encontrarmo-nos com Jesus é tudo o que precisamos.
Inês Gandaio