sábado, 30 de junho de 2018

Os encontros de Jesus com as mulheres no Evangelho de Marcos - Inês Gandaio

O isolamento e a exclusão provavelmente são dos piores males da nossa sociedade. Vivemos num mundo em que temos a possibilidade de comunicar com qualquer pessoa no planeta, mas sentimo-nos cada vez mais sozinhos. Desde crianças que tentamos pertencer a algum grupo, ser aceites tentando encaixarmo-nos em algum lugar, mas a verdade é que cada vez nos sentimos mais perdidos, menos aceites e mais isolados.

A Bíblia relata-nos acerca da vida de uma mulher que sabia muito bem o que significava tudo o que acabei de descrever e provavelmente, mais... muito mais! O evangelista Marcos (Mc 5:25-34), descreve-a sofrendo de uma doença, um fluxo de sangue que não cessava. De acordo com a cultura judaica esta mulher encontrava-se impura. A impureza separava o Homem de Deus (adoração e comunhão tornavam-se impossíveis).

Em Levítico 15:19-27 podemos verificar que esta mulher “todos os dias do fluxo será imunda” (v.25), “que qualquer que a tocar será imundo até à tarde” (v.19), o que coabitar com ela, ou até sentar/deitar nos lugares onde ela se sentou ficaria cerimonialmente impuro. Se acrescermos a ideia de que os judeus acreditavam que a doença era resultado do castigo de Deus, por causa de pecado não confessado, podemos imaginar um pouco do isolamento que ela vivia. Provavelmente não teria conseguido constituir uma família, ou talvez o marido a tenha deixado, não teria amigos e não poderia ir a uma sinagoga ou ao templo.

Excluída da sociedade judaica do primeiro século, e tendo recorrido a várias formas de tratar a sua doença, nunca conseguiu tratamento adequado, antes pelo contrário, tinha piorado e gasto as economias de uma vida. Estava desesperada, sozinha, fraca, provavelmente deprimida e tendo ouvido a fama de Jesus resolve dar o último passo e ir ao encontro do Mestre.

Provavelmente ela saberia que Cristo tinha curado outras pessoas e resolveu tentar. Debaixo do anonimato da multidão que apertava cada vez mais Jesus e os seus discípulos, a mulher seguiu determinada e esperançosa até agarrar a veste de Cristo. Alguns paradigmas ela teve que derrubar, ser mulher e tocar num homem, o estar impura e tocar num mestre. Imediatamente, ela foi curada da sua doença. E a atitude de Jesus diante deste acontecimento é sobremaneira incrível, sublime, excelente. Jesus buscou, diante da perplexidade dos seus discípulos, quem lhe tinha tocado com fé. Jesus olha para uma pessoa na multidão, deseja ter um relacionamento.

A mulher apesar do medo das consequências que podiam advir da sua ousadia, prostra-se diante de Jesus e declara-lhe o que tinha acontecido. Jesus não restaura só a saúde desta mulher, Ele exalta sua fé, restaura a sua identidade, a sua posição na sociedade. Jesus a vê como uma pessoa, Ele olha para o interior. O versículo 34 é soberbo. Jesus a trata por filha, é o único relato em que Jesus trata uma mulher desta forma, incluindo-a na família de Deus.

Agora ela era alguém, já não estava mais excluída de todas as estruturas sociais vigentes. Ela já não era invisível para os outros, ou indesejada, ela é valorizada, ela agora está curada, podendo voltar à sua comunidade, refazer a sua vida. A fé desta mulher fez com ela fosse curada fisicamente, mas isso é unicamente resultado da salvação espiritual ocorrida. Após doze anos de sofrimento, inquietude, turbulência Jesus trouxe bem-estar, tranquilidade, harmonia à vida desta mulher.

Deus criou-nos com o propósito de nos relacionarmos, deu-nos valor, concede-nos uma identidade, transforma a nossa vida. Encontrarmo-nos com Jesus é tudo o que precisamos.

Inês Gandaio