Deus é o criador de tudo e de todos. Algures
na eternidade, Deus decidiu criar o Homem e criou-o perfeito. Adão e Eva tinham
uma comunhão íntima e perfeita com o Criador, até ao dia em que pecaram. Mesmo
depois de ter entrado o pecado no mundo, o Senhor continuou a amá-los e, desde
logo, informou-os que havia um plano de salvação. Um plano que lhes daria a
oportunidade de viverem com o Senhor eternamente e de voltarem à intimidade e
perfeição que existia antes da queda. Então, Deus decidiu escolher um povo para
cumprir o seu plano redentor.
O Senhor chamou a Abrão para ser uma nação, e
prometeu-lhe que seria uma bênção para todas as nações da terra (Génesis
12:1-3).
Após Abraão ter-se tornado na nação de Israel,
Deus retira o Seu povo da escravidão e da idolatria do Egipto, estabelecendo
com ele uma aliança, no Sinai. Dá-lhes uma terra, uma Lei e Israel passa a ser
a “montra” do mundo, mostrando às nações como é viver na obediência e na graça
de Deus. Israel tinha como propósito, segundo Michael Goheen, ser uma sociedade
de contraste, mediadora entre Deus e as nações, para revelar o plano salvífico
do Criador. Como povo redimido, Israel devia servir apenas ao Senhor,
rejeitando todos os ídolos e tornando-se uma nação santa, com o propósito de
ser luz para o mundo e anunciar Deus às Nações.
Nesse plano amoroso e gracioso, conforme as
profecias, Deus encarnou, fez-se homem e através de um corpo humano trouxe ao
mundo o Seu Reino. Jesus mostrou o poder desse Reino sobre todas as instâncias
do mal, inclusive sobre a própria morte, a herança do pecado.
Deus, através do seu filho Jesus, foi à cruz
do Calvário oferecer-se em resgate dos homens. Na ressurreição, surge um novo
tempo marcado pela “shalom”, justiça e salvação.
Mas, a Salvação providenciada pelo Senhor
tinha de estender-se a toda a terra e isso seria impossível através de um único
corpo humano - Jesus. Então, Deus decidiu que a Sua Salvação fosse proclamada
por outro ‘corpo’ que se multiplicava e que se podia estender por todas as
regiões do mundo. Esse corpo continuava a ter o seu Espírito, o seu poder e o
seus propósitos. Esse corpo é a Igreja – a eclesia. Como disse Goheen, o termo
eclesia "foi usado para descrever o povo de Israel como uma assembleia sagrada quando
estava reunido diante de Deus como seu povo da Aliança" (Igreja Missional na Bíblia, p. 195). Este nome demonstra
que a Igreja de Cristo continua a ser o povo escatológico das profecias do
Velho Testamento.
Deus deu à Igreja a incumbência de continuar a
Sua missão redentora de uma humanidade rebelde. A missão da igreja não pode
deixar de ser outra coisa que não a missão do próprio Deus – Missio Dei!
Independentemente da cultura ou época, dos meios de comunicação ou da
criatividade de líderes religiosos, a missão da igreja tem que ser a continuação
da missão redentora iniciada em Adão.
É frequente ver igrejas que não compreendem a
sua identidade como sendo o povo escatológico anunciado nas profecias, deixando
de cumprir a sua missão na Terra. Vemos, com frequência, líderes com um visão
de igreja reduzida ao seu rebanho local, que zelosamente alimentam e doutrinam.
Porém, se não existir uma visão de missão redentora corremos o risco de
estarmos a criar “ovelhas estéreis”.
Não queremos ser uma igreja que vive de si
para si, refugiada num ambiente espiritual distante do mundo. Entendemos que a
nossa missão enquanto igreja possa ser definida como:
Uma comunidade que ama e serve a Deus e as
pessoas, e dá a conhecer Jesus a todos os povos.
A identidade da igreja e a sua missão devem,
portanto, ter em atenção um crescimento espiritual na sua relação com Deus
promovendo a adoração e a santidade. A igreja deve crescer em comunhão, num
“corpo bem ajustado” e no amor ao próximo, quer seja cristão ou incrédulo. E
como o povo redimido de Deus, a Igreja deverá também amar a missão de Deus e
cumpri-la, seja na sua Jerusalém ou nos confins do mundo, até onde o seu poder
influenciador o permitir.
Rui Sabino
Rui Sabino