domingo, 24 de junho de 2018

O lugar dos mais novos no ministério de Jesus: no plano relacional – Teotónio Cavaco

Jesus manifestou ser um Mestre incomum. Todos se chegavam a Ele, desde o maior ao menor, do mais culto ao menos sabedor, do mais autossuficiente ao mais necessitado. Os Evangelhos reportam acontecimentos que deixam bem clara a facilidade com que as pessoas se chegavam ao Mestre. Nem aos mais pequeninos Ele recusou esse acesso! Por iniciativa Dele ou em resposta às solicitações dos seus pais, vemos nos Evangelhos um Mestre disponível para eles. E esses encontros não são acidentais, são intencionais ao nível da procura e da resposta.
Jesus era um ser relacional! Os momentos que passava com alguém eram aproveitados ao máximo, e ainda que breves, tornavam-se marcantes nas vidas daqueles que com Ele se relacionavam. Não foi diferente com os mais novos. “Ele veio para o que era seu...”, diz o evangelista João (Jo 1:11), e os mais novos faziam parte do escopo do Seu ministério. Servir-nos-emos apenas de dois textos da Palavra para explanar a dimensão relacional de Jesus com os mais novos.

Em primeiro lugar, a passagem de Marcos 10.13-16. Havia dentre os seguidores de Jesus alguns que achavam que na dimensão relacional do Mestre haveria espaço para os mais novos, e outros não. Neste caso encontravam-se os discípulos, que movidos por uma visão restrita do espaço relacional de Jesus, impediam as pessoas que os traziam. Elas, como boas mães, gostariam que os seus filhos fossem abençoados pelas mãos maravilhosas do Mestre. É notável a visão que estas mulheres tinham desta dimensão relacional! Elas entendiam que em Jesus havia espaço para todos, até para os mais insignificantes seres do espaço social da época. A reprimenda do Mestre aos seus discípulos esteve na dimensão equitativa da mesma visão que eles manifestaram a respeito da dimensão relacional de Jesus. Essa reprimenda foi tão oportuna quanto pedagógica! Se esse momento passasse em branco, os discípulos teriam levado este despojo negativo ao longo dos seus ministérios. Foi uma ação cirúrgica para demonstrar que sempre haveria no regaço do Bom Pastor lugar para os pequenos cordeirinhos.[1] Ainda hoje, por parte dos pais deverá haver o desejo de trazer os seus filhos às fontes das bençãos do Mestre e por parte dos líderes a disposição em abençoá-los.

Em segundo lugar, a passagem de João 6.1-13. Opto pela passagem de João porque ele é o único que introduz um pormenor importantíssimo que até escapa ao escritor-repórter Marcos, cuidadoso com os detalhes jornalísticos. É que João descobriu qual o dono dos cinco pães e dois peixes que foram abençoados e multiplicados pelo poder do Mestre. O pormenor de João é surpreendente – “Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos...” (v.9). Jesus chegou a relacionar-se ou não com este rapaz de quem nem sequer sabemos o nome? Eu creio que sim! Jesus deve ter honrado este rapaz publicamente como honrou o seu gesto de partilha, pois não era comum um rapaz trazer consigo cinco pães e dois peixinhos sem que houvesse nele o desejo de o partilhar com mais alguém. E Jesus honrou esse seu desejo ao multiplicar aquele lanche por uma enorme multidão. Ainda hoje é bom que ensinemos os nossos filhos a partilhar e esperar que essa partilha dê oportunidade a Jesus de saciar muitas vidas. Os líderes precisam acreditar na bondade dos mais novos e servir-se dela para exemplo dos adultos egoístas, fechados em si mesmos.

Teotónio Cavaco




[1] Curiosamente, na última conversa que Jesus teve com Pedro, depois de este O ter negado, Jesus ordena a Pedro – “Apascenta os meus cordeiros” (João 20.15).