Jesus manifestou ser um
Mestre incomum. Todos se chegavam a Ele, desde o maior ao menor, do mais culto
ao menos sabedor, do mais autossuficiente ao mais necessitado. Os Evangelhos
reportam acontecimentos que deixam bem clara a facilidade com que as pessoas se
chegavam ao Mestre. Nem aos mais pequeninos Ele recusou esse acesso! Por
iniciativa Dele ou em resposta às solicitações dos seus pais, vemos nos
Evangelhos um Mestre disponível para eles. E esses encontros não são
acidentais, são intencionais ao nível da procura e da resposta.
Jesus era um ser
relacional! Os momentos que passava com alguém eram aproveitados ao máximo, e
ainda que breves, tornavam-se marcantes nas vidas daqueles que com Ele se
relacionavam. Não foi diferente com os mais novos. “Ele veio para o que era
seu...”, diz o evangelista João (Jo
1:11), e os mais novos faziam parte do escopo do Seu ministério.
Servir-nos-emos apenas de dois textos da Palavra para explanar a dimensão
relacional de Jesus com os mais novos.
Em primeiro lugar, a
passagem de Marcos 10.13-16. Havia dentre os seguidores de Jesus alguns que
achavam que na dimensão relacional do Mestre haveria espaço para os mais novos,
e outros não. Neste caso encontravam-se os discípulos, que movidos por uma
visão restrita do espaço relacional de Jesus, impediam as pessoas que os traziam.
Elas, como boas mães, gostariam que os seus filhos fossem abençoados pelas mãos
maravilhosas do Mestre. É notável a visão que estas mulheres tinham desta
dimensão relacional! Elas entendiam que em Jesus havia espaço para todos, até
para os mais insignificantes seres do espaço social da época. A reprimenda do
Mestre aos seus discípulos esteve na dimensão equitativa da mesma visão que
eles manifestaram a respeito da dimensão relacional de Jesus. Essa reprimenda
foi tão oportuna quanto pedagógica! Se esse momento passasse em branco, os
discípulos teriam levado este despojo negativo ao longo dos seus ministérios.
Foi uma ação cirúrgica para demonstrar que sempre haveria no regaço do Bom
Pastor lugar para os pequenos cordeirinhos.[1]
Ainda hoje, por parte dos pais deverá haver o desejo de trazer os seus filhos
às fontes das bençãos do Mestre e por parte dos líderes a disposição em
abençoá-los.
Em segundo lugar, a
passagem de João 6.1-13. Opto pela passagem de João porque ele é o único que
introduz um pormenor importantíssimo que até escapa ao escritor-repórter Marcos,
cuidadoso com os detalhes jornalísticos. É que João descobriu qual o dono dos
cinco pães e dois peixes que foram abençoados e multiplicados pelo poder do
Mestre. O pormenor de João é surpreendente – “Está aqui um rapaz que
tem cinco pães de cevada e dois peixinhos...” (v.9). Jesus chegou a
relacionar-se ou não com este rapaz de quem nem sequer sabemos o nome? Eu creio
que sim! Jesus deve ter honrado este rapaz publicamente como honrou o seu gesto
de partilha, pois não era comum um rapaz trazer consigo cinco pães e dois
peixinhos sem que houvesse nele o desejo de o partilhar com mais alguém. E
Jesus honrou esse seu desejo ao multiplicar aquele lanche por uma enorme
multidão. Ainda hoje é bom que ensinemos os nossos filhos a partilhar e esperar
que essa partilha dê oportunidade a Jesus de saciar muitas vidas. Os líderes
precisam acreditar na bondade dos mais novos e servir-se dela para exemplo dos
adultos egoístas, fechados em si mesmos.
Teotónio Cavaco
[1] Curiosamente, na
última conversa que Jesus teve com Pedro, depois de este O ter negado, Jesus
ordena a Pedro – “Apascenta os meus cordeiros” (João 20.15).