Partindo do princípio
observador de que os mais novos se incluem no plano redentor de Deus, fator
tão evidente nas declarações da Palavra, nos vestígios encontrados na
cultura bíblica e no exercício do ministério dos apóstolos nos primórdios
da igreja, tão presente no Livro histórico do Novo Testamento e das Cartas, a
pergunta à qual se procura responder é – “que implicações tem isso para o
ministério pastoral?”
O manuscrito bíblico
dá-nos referências acerca da estratégia do Mestre ao incluir no Seu ministério
os mais novos, resultado da Sua compaixão e amor por eles como seres acerca
dos quais Ele deseja “que nenhum deles se perca”. Torna-se evidente também o
novo lugar que Jesus dá aos mais novos, trazendo-os para o centro das
atenções missiológicas, factos bem presentes quando Ele escolhe uma criança
que colocou no meio dos apóstolos e a partir dela as caracterizou como “Deles
é o reino dos céus”; também quando recebeu das mãos do menino o lanche, a
partir do qual Ele alimentou uma imensa multidão e ilustrou o princípio de
que Ele é “o Pão da Vida”. O relato bíblico de Actos e também das Cartas
não deixam qualquer dúvida quanto ao lugar que os mais novos ocupam no
espaço da comunidade espiritual que emerge, creio eu como resultado da visão
transmitida pelo Mestre aos seus discípulos e cuja aprendizagem está bem
presente quando se constata a presença de gente pequena no exercício de culto
e de reunião em narrativas bíblicas como Actos 10, Actos 12, Actos 16, Actos
20 e também em algumas referências feitas nas Cartas que Paulo escreve às
igrejas neotestamentárias.
E do ponto de vista
social, não sabemos da importância que era dedicada à educação dos mais
novos dos tempos de Jesus e no cuidado atribuído à preparação deles para a
vida, tão presente no sistema de ensino que se fazia a partir da sinagoga? É
verdade que na presença dos doutores da Lei Jesus, enquanto criança
surpreendeu-os, mas um judeu da idade de Jesus, que fosse educado conforme o
sistema de ensino proporcionado pela escola da época, o sistema da sinagoga,
surpreenderia também os “doutores da lei” do nosso tempo. Por alguma razão
Lucas 2.52 é a matriz que as igrejas evangélicas deveriam usar para o
crescimento efetivo dos seus cordeiros, um crescimento lateral a todas as
dimensões da vida.[1] Mas
sobre este assunto ainda teremos tempo para falar.
Insisto, perante tamanha
evidência do lugar dos mais novos no espaço cultural da igreja emergente, a
de Actos dos Apóstolos (esta é a verdadeira igreja emergente), a pergunta que
surge na mente é – “será que a igreja de Jesus de hoje ainda carrega o peso
de um preconceito que foi abandonado na nova igreja emergente de Actos? Será
que os ministérios das igrejas de hoje não deveriam de estar impregnadas de
uma cultura de Rebanho onde os mais novos são parte do plano redentor de Deus,
vistas não só ao nível da teologia que embeleza as nossas declarações de
missão, mas que reproduz no seu sentido prático o papel e a importância do
envolvimento dos pastores na dedicação deles aos cordeiros que são parte do
Rebanho? É uma pergunta longa, talvez por isso a resposta demore tanto a
fazer-se sentir entre nós!
A título de exemplo, quais são os pastores que
pensam na possibilidade de adquirir formação para o trabalho com os mais
novos como um benefício complementar da sua preparação pastoral, como um
fator enriquecedor na área da evangelização, do discipulado, do
aconselhamento pastoral? Por outro lado, quais são as igrejas que estão
prontas a apoiar os seus pastores para que eles participem em planos de
formação que visam o alcance dos cordeiros e isso se torna tão relevante
quanto a preparação que se espera de um pastor que se equipa melhor para a
ministração às ovelhas do Rebanho?
Teotónio Cavaco
[1] Intelectualmente
(sabedoria), Fisicamente (estatura), Espiritualmente (graça para com Deus) e
Socialmente (graça para com os homens).