No artigo anterior, foi
possível observar que Jesus inclui os mais novos como parte integrante do seu
ministério pessoal, dotado de um sentido missiológico que não pode passar
despercebido a todo o estudante honesto das Escrituras. Se tal estratégia
acompanhou o Modus operandi do
Mestre, como podem os pastores de hoje não adotar tal medida para os seus
próprios ministérios?
Há três grandes
declaracões de Jesus que devem levar-nos a avaliar se essa valorização está
presente nos ministérios particulares dos pastores dos nossos dias:
1) Ao nível da visão
do reino. Em Marcos 10.14, o Mestre afirmou: “...dos tais é o reino dos
céus”. Outras traduções optam por “o reino dos céus é deles”. A passagem
bíblica mostra o interesse de Jesus em abençoar os mais novos e a reação
impeditiva dos discípulos, o que levou o Mestre a revelar um sentimento de
indignação pela atitude deles (não são muitas as vezes que Jesus se mostra
indignado). Quando Jesus faz essa afirmação, Ele alarga a visão do reino aos
mais pequenos e diz que esse reino é próprio delas. Em Mateus, Ele chega a
afirmar que a matriz para entrar no reino dos céus é a própria criança e o
padrão para ser-se grande no reino ajusta-se à humildade que está presente
na criança. Isso significa que nós precisamos de dedicar atenção e cuidado
aqueles que servem de matriz ao reino e o classificam.
2) Ao nível da missão
do reino. Em Mateus 18.14, O Mestre afirmou: “...não é vontade de vosso Pai
Celeste que pereça um só destes pequeninos”. Que afirmação surpreendente!
Jesus está a dizer que é da vontade intrínseca do Seu ser que nem um só
pequenino se perca. Pedro também repetiu o mesmo sentido de missão quando
escreve na sua Segunda Carta: “...não querendo que nenhum pereça, senão que
todos cheguem ao arrependimento” (2Pedro 3.9). Ao observarmos com cuidado o
texto de Mateus 18, descobrimos que Jesus deixou de usar a palavra “criança”,
referida nos versículos 2 a 5, quando fala da visão do reino, e passou a usar
a palavra “pequeninos”, referida nos versículos 6, 10 e 14, que no original é
a palavra “mikros”, indicando um ser
pequeno que também está incluído na missão que pertence ao reino. Isso
significa que faz parte da missão dos pastores o cuidado especial por aqueles
pequeninos que “crêem em Mim (Jesus)” (v.6).
3) Ao nível do rebanho
que caracteriza o reino. Em João 20.21, O Mestre afirmou: “apascenta os meus
cordeiros”. Esta ordem tem-me incomodado ao longo dos últimos 35 anos de
ministério. É uma ordem igualmente declarativa da missão tão igual quanto
Mateus 28.19-20 ou Marcos 16.15, apenas com uma ligeira diferença, pois foi
dita a um servo isolado. É uma ordem dada particularmente a Pedro, o mesmo
apóstolo que haveria de ser “cabeça de cartaz” das cenas divinas que viriam a
palco nos primeiros episódios da história da igreja de Jesus, narradas por
Lucas em Actos. Este é o apóstolo que tomou a dianteira da liderança
apostólica por uns tempos e que apesar dos sinais evidentes de que a salvação
era para todos, precisou de uma visão especial, narrada em Actos 10, para
alargar-lhe os horizontes de que os estrangeiros e os mais novos são parte do
rebanho!
Poder-se-á dizer que
ainda hoje o preconceito existe? Se o rebanho entregue aos seus servos para ser
pastoreado inclui os mais novos, não será razão suficiente que os pastores
ministrem a todo o rebanho, incluindo os cordeiros?
Teotónio Cavaco
Teotónio Cavaco