terça-feira, 28 de agosto de 2018

O reflexo do estilo de liderança de Jesus nos Seus discípulos - Miguel Jerónimo

“Deixa-nos ocupar os dois primeiros lugares quando estiveres no teu reino glorioso”. Marcos 10:37 - BPT

Esta frase foi dita por dois dos principais discípulos de Jesus, mas podia perfeitamente ter sido dita por qualquer um de nós nas mesmas circunstâncias! O importante não é escamotearmos a maturidade (ou falta dela) de Tiago e João mas sim perceber como Jesus conseguiu levá-los a fazer esta transição de “deixa-nos ocupar os lugares mais importantes” para serem servos de todos.

Apesar de os discípulos amarem Jesus eles tinham a expectativa de que Ele os levasse a entrar num Reino literal e queriam desde cedo assegurar uma posição de liderança.[1] Para eles, como para muitos hoje, uma posição de liderança era uma posição de governo, de autoridade, de se assentar num lugar mais elevado que os demais e dali dar ordens que seriam obedecidas pelos outros.

O estilo de liderança do Messias Jesus foi no entanto muito diferente do que eles esperavam, e a Sua atitude na lavagem dos pés foi então um autêntico escândalo (como se percebe pela reação de Pedro). Jesus traz uma liderança que não era de todo esperada para uma “personagem” como a Sua, mas escolheu fazê-lo ao invés de se conformar com os padrões estabelecidos pela liderança secular, e até pela liderança religiosa da altura.[2]

Naquele momento, sabendo que o Seu tempo com eles estava perto do fim, Jesus decidiu fazer algo que fosse fácil de apreender e que fosse replicável. Afinal, a Sua missão salvífica era única, a sua posição de Deus-Homem era inigualável, mas a Sua atitude de servo podia ser aprendida e replicada.

A igreja primitiva, formada pelos primeiros crentes e liderada inicialmente pelos apóstolos, foi uma igreja que serviu, uma igreja que se preocupou em pregar o Evangelho ao mesmo tempo que servia os órfãos, viúvas e outros desfavorecidos. Uma das primeiras descrições de organização eclesiástica que temos no livro de Atos é a instituição dos diáconos, por iniciativa dos apóstolos, para que pudessem servir os irmãos de forma mais eficaz (Atos 6). É creditada ao Imperador Juliano uma citação de que parte do avanço da igreja cristã (vista por ele como uma superstição perniciosa) era devido ao cuidado e serviço que eles tinham para com os pobres, não apenas os da fé, mas para com todos.

De facto Jesus não deixou uma igreja estabelecida, um organigrama definido, nem sequer uma comissão instaladora(!), mas deixou um exemplo a ser seguido, não apenas pelos Seus discípulos do 1º século mas também por todos os que hoje sentem a chamada para liderar.

Miguel Jerónimo




[1] FLEMING, Kenneth C. Ele humilhou-se a Si mesmo. São Paulo: Editora Vida, 1994.
[2] RAINHO, Manuel. O Misterioso Jesus. Lisboa: Grupo Bíblico Universitário de Portugal, 2010.