“Deixa-nos ocupar os
dois primeiros lugares quando estiveres no teu reino glorioso”. Marcos 10:37 -
BPT
Esta frase foi dita por
dois dos principais discípulos de Jesus, mas podia perfeitamente ter sido dita
por qualquer um de nós nas mesmas circunstâncias! O importante não é
escamotearmos a maturidade (ou falta dela) de Tiago e João mas sim perceber
como Jesus conseguiu levá-los a fazer esta transição de “deixa-nos ocupar os
lugares mais importantes” para serem servos de todos.
Apesar de os discípulos
amarem Jesus eles tinham a expectativa de que Ele os levasse a entrar num Reino
literal e queriam desde cedo assegurar uma posição de liderança.[1]
Para eles, como para muitos hoje, uma posição de liderança era uma posição
de governo, de autoridade, de se assentar num lugar mais elevado que os demais
e dali dar ordens que seriam obedecidas pelos outros.
O estilo de liderança
do Messias Jesus foi no entanto muito diferente do que eles esperavam, e a Sua
atitude na lavagem dos pés foi então um autêntico escândalo (como se
percebe pela reação de Pedro). Jesus traz uma liderança que não era de todo
esperada para uma “personagem” como a Sua, mas escolheu fazê-lo ao invés de
se conformar com os padrões estabelecidos pela liderança secular, e até pela
liderança religiosa da altura.[2]
Naquele momento, sabendo
que o Seu tempo com eles estava perto do fim, Jesus decidiu fazer algo que
fosse fácil de apreender e que fosse replicável. Afinal, a Sua missão salvífica
era única, a sua posição de Deus-Homem era inigualável, mas a Sua atitude
de servo podia ser aprendida e replicada.
A igreja primitiva,
formada pelos primeiros crentes e liderada inicialmente pelos apóstolos, foi
uma igreja que serviu, uma igreja que se preocupou em pregar o Evangelho ao
mesmo tempo que servia os órfãos, viúvas e outros desfavorecidos. Uma das
primeiras descrições de organização eclesiástica que temos no livro de
Atos é a instituição dos diáconos, por iniciativa dos apóstolos, para que
pudessem servir os irmãos de forma mais eficaz (Atos 6). É creditada ao
Imperador Juliano uma citação de que parte do avanço da igreja cristã
(vista por ele como uma superstição perniciosa) era devido ao cuidado e
serviço que eles tinham para com os pobres, não apenas os da fé, mas para
com todos.
De facto Jesus não
deixou uma igreja estabelecida, um organigrama definido, nem sequer uma
comissão instaladora(!), mas deixou um exemplo a ser seguido, não apenas
pelos Seus discípulos do 1º século mas também por todos os que hoje sentem a
chamada para liderar.
Miguel Jerónimo