domingo, 12 de agosto de 2018

Encontros de Jesus - A viúva pobre - Inês Gandaio

“Uma Imagem vale mais do que mil palavras”. Os media, as redes sociais, as publicidades vivem à custa desta máxima e levam-na muito a sério. Muito dinheiro é gasto em grandes campanhas publicitárias tentando criar pessoas e lugares que não existem. Tentam captar um pouco da nossa atenção de todas as formas possíveis através de imagens apelativas, coloridas, sedutoras. A verdade é que desde muito cedo somos bombardeados com este mundo da imagem, da aparência e crescemos valorizando e avaliando os outros de acordo com esse padrão.

O capítulo 12 do evangelho segundo Marcos apresenta Jesus em diferentes situações, com públicos diversos e em momentos de ensino. Jesus no seu ministério contava parábolas fruto da observação de situações do quotidiano, era questionado, questionava e tudo redundava em situações de ensino-aprendizagem.

No final do capítulo (vv. 41-44), encontramos Jesus sentado no templo observando as pessoas. O Mestre estava, mais precisamente, no átrio das mulheres. Lá existiam 13 caixas em que o povo colocava as ofertas que eram destinadas aos sacrifícios e à manutenção do templo. O verso 41 descreve as ofertas de homens ricos, grandes quantias de dinheiro. E em seguida apresenta-nos uma mulher. Ela era viúva e pobre. De acordo com Roland Vaux, numa família israelita a mulher tinha uma relação de dependência do marido. A referência à pobreza da mulher pode ter várias leituras. Mas, provavelmente esta viúva vivia nesta condição porque não tinha ninguém para a sustentar, não tinha descendência. Ela fazia parte do quarteto vulnerável que a Torah descrevia, o qual Israel deveria cuidar (Dt 10:12-22). No entanto reparamos que não era isso que acontecia, visto que ela permanecia pobre. Social e religiosamente, a mulher encontrava-se vulnerável e desprotegida. A sua oferta?! Nenhuma!! Ela era viúva e pobre!!! Só que não é isso que o texto nos relata. Diz-nos que a viúva entregou duas pequenas moedas de cobre. A quantia seria equivalente à sexagésima quarta parte de um dia de trabalho. Hoje em dia, tomando como referência o ordenado mínimo português (€580), a oferta seria de cerca de €0,30.

Jesus olha para este quadro em que a mulher oferta esta pequena quantia e chama a atenção dos seus discípulos. Os discípulos deviam estar perplexos. Jesus foca a atenção deles não na ação dos ricos e nas grandes quantias depositadas nas caixas, mas fá-los olhar para além do aparente, para além da quantidade, para além da imagem.

Se pensarmos que estes ricos seriam os doutores da lei, ainda mais perturbador é o ensino de Jesus, visto que se recuarmos uns versos (vv. 38-40) podemos notar o julgamento que Ele faz acerca destes homens e de como estes valorizavam a aparência, o status, os aplausos dos homens. O Mestre refere que a mulher depositou mais do que os outros porque apesar da sua oferta ser monetariamente insignificante, ela deu o seu sustento, a sua vida. Ela deu com fé/confiança, deu como resultado do seu amor a Deus e não como dando o que lhe sobrava ou como fazendo parte de um ritual.

De acordo com os padrões do mundo a quantidade merece aplausos, mas aos olhos de Deus a qualidade da oferta faz toda a diferença, visto que lá podemos ver a pureza do coração, a generosidade demonstrada, a adoração verdadeira a Deus e a fé colocada em ação. Alice Mathews refere que, o que damos ou guardamos revela quais são as nossas prioridades. Jesus ensinou os seus discípulos no sermão do Monte: “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6:21).

Se tivesses que tirar uma foto para postar no Facebook ou no Instagram certamente que a imagem de uma mulher pobre, a depositar umas moedas numa caixa não seria a que ganharia mais “likes”, mas ela certamente vale mais do que mil palavras quando olhamos para o coração, a fé e pureza do seu amor a Deus.

Inês Gandaio