“Uma Imagem vale mais do
que mil palavras”. Os media, as redes sociais, as publicidades vivem à custa
desta máxima e levam-na muito a sério. Muito dinheiro é gasto em grandes
campanhas publicitárias tentando criar pessoas e lugares que não existem.
Tentam captar um pouco da nossa atenção de todas as formas possíveis
através de imagens apelativas, coloridas, sedutoras. A verdade é que desde
muito cedo somos bombardeados com este mundo da imagem, da aparência e
crescemos valorizando e avaliando os outros de acordo com esse padrão.
O capítulo 12 do
evangelho segundo Marcos apresenta Jesus em diferentes situações, com
públicos diversos e em momentos de ensino. Jesus no seu ministério contava
parábolas fruto da observação de situações do quotidiano, era questionado,
questionava e tudo redundava em situações de ensino-aprendizagem.
No final do capítulo
(vv. 41-44), encontramos Jesus sentado no templo observando as pessoas. O
Mestre estava, mais precisamente, no átrio das mulheres. Lá existiam 13
caixas em que o povo colocava as ofertas que eram destinadas aos sacrifícios e
à manutenção do templo. O verso 41 descreve as ofertas de homens ricos,
grandes quantias de dinheiro. E em seguida apresenta-nos uma mulher. Ela era
viúva e pobre. De acordo com Roland Vaux, numa família israelita a mulher
tinha uma relação de dependência do marido. A referência à pobreza da
mulher pode ter várias leituras. Mas, provavelmente esta viúva vivia nesta
condição porque não tinha ninguém para a sustentar, não tinha
descendência. Ela fazia parte do quarteto vulnerável que a Torah descrevia, o
qual Israel deveria cuidar (Dt 10:12-22). No entanto reparamos que não era
isso que acontecia, visto que ela permanecia pobre. Social e religiosamente, a
mulher encontrava-se vulnerável e desprotegida. A sua oferta?! Nenhuma!! Ela
era viúva e pobre!!! Só que não é isso que o texto nos relata. Diz-nos que
a viúva entregou duas pequenas moedas de cobre. A quantia seria equivalente à
sexagésima quarta parte de um dia de trabalho. Hoje em dia, tomando como
referência o ordenado mínimo português (€580), a oferta seria de cerca de
€0,30.
Jesus olha para este
quadro em que a mulher oferta esta pequena quantia e chama a atenção dos seus
discípulos. Os discípulos deviam estar perplexos. Jesus foca a atenção
deles não na ação dos ricos e nas grandes quantias depositadas nas caixas,
mas fá-los olhar para além do aparente, para além da quantidade, para além
da imagem.
Se pensarmos que estes
ricos seriam os doutores da lei, ainda mais perturbador é o ensino de Jesus,
visto que se recuarmos uns versos (vv. 38-40) podemos notar o julgamento que
Ele faz acerca destes homens e de como estes valorizavam a aparência, o
status, os aplausos dos homens. O Mestre refere que a mulher depositou mais do que
os outros porque apesar da sua oferta ser monetariamente insignificante, ela
deu o seu sustento, a sua vida. Ela deu com fé/confiança, deu como resultado
do seu amor a Deus e não como dando o que lhe sobrava ou como fazendo parte de
um ritual.
De acordo com os
padrões do mundo a quantidade merece aplausos, mas aos olhos de Deus a
qualidade da oferta faz toda a diferença, visto que lá podemos ver a pureza
do coração, a generosidade demonstrada, a adoração verdadeira a Deus e a
fé colocada em ação. Alice Mathews refere que, o que damos ou guardamos
revela quais são as nossas prioridades. Jesus ensinou os seus discípulos no
sermão do Monte: “porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu
coração” (Mt 6:21).
Se tivesses que tirar
uma foto para postar no Facebook ou no Instagram certamente que a imagem de uma
mulher pobre, a depositar umas moedas numa caixa não seria a que ganharia mais
“likes”, mas ela certamente vale mais do que mil palavras quando olhamos para o
coração, a fé e pureza do seu amor a Deus.
Inês Gandaio
Inês Gandaio