Uma comparação entre os
conceitos daquele tempo e os nossos.
Definir pecado quando
olhamos para a Bíblia nos leva a um olhar atento, porque os termos usados para
designa-lo são variados, tanto no hebraico como no grego. Por um lado refere-se
a uma pessoa (normalmente as prostitutas, os ladrões e outros de baixa
reputação, cujos pecados eram óbvios e grosseiros), ou a nação de Israel,
quando reconhecia-se como tal, ou na maioria das vezes as nações que não andavam
segundo as leis de Deus. A título de exemplo encontramos David por duas vezes a
reconhecer-se como pecador e a pedir perdão (2 Sm 12.13 e 2 Sm 24.17). Nas
muitas vezes em que o povo de Deus reconhecia que havia pecado contra o Senhor
(o livro de Juízes dá-nos um relato claro de como isso acontecia
frequentemente, e como Deus, por meio do seu Espírito, envia um libertador,
após o povo reconhecer o seu pecado). Por último, quando o povo de Deus olhava
para os pagãos e considerava-os pecadores, como exemplificamos no segundo
texto, onde, em Hc 1.13, o profeta intercede identificando os invasores como
perversos (pecadores), porque não tinham em Deus o seu Senhor e pastor.
Nos tempos de Jesus
Nos tempos pós-exílicos,
até ao tempo em que Jesus exerceu o seu ministério, as pessoas em Israel tinham
como pecadores todos aquelas nações, ou indivíduos que não andavam e regiam
suas vidas debaixo da lei de Deus. No entanto, entre os Israelitas também
encontravam-se aqueles a quem os chefes religiosos claramente taxavam como
pecadores.
Quando olhamos para os
evangelhos, e os relacionamentos de Jesus tanto com os seus discípulos como com
outras pessoas, podemos ver como os líderes religiosos do seu tempo marcavam as
pessoas. Para eles Jesus era amigo dos pecadores e isso servia de acusação. Por
exemplo:
Quando Levi é chamado
pelo mestre para o seguir (Mt 9.9:13, Mc 2.13:17 e Lc 5.27:32), os fariseus
prontamente o repudiam porque não se deve comer com pecadores que eram muitos. Levi
tinha convidado os seus amigos cobradores de impostos que eram vistos como os piores
pecadores não só pelos líderes religiosos mas pelo povo em geral por prestarem
serviço aos romanos.
A narrativa de Lc
7.36:50 fala de uma mulher pecadora. Interessante é que não sabemos muito do
porquê ela era conhecida como pecadora. Como vimos acima, prostitutas eram
chamadas de pecadoras e, por isso, muitos estudiosos apontam ela como sendo
uma. O facto é que Jesus a recebe, e por isso é criticado pela convivência com
uma pecadora.
Nos nossos tempos
Nos nossos dias embora
não as cataloguemos como pecadores, existem as pessoas viciadas em drogas
pesadas, os assassinos, os violadores e outros mais, que são tidos como os
piores da sociedade, em termos gerais.
Dentro das comunidades
cristãs sabemos, pelo ensino de Jesus, que todos somos pecadores. Mas será que
essa é uma realidade vivida, ou apenas aquilo que é o ideal? Na verdade também
taxamos alguns como pessoas com quem não devemos conviver, e por isso temos a
tendência de identificar os outros como pecadores, com a desculpa de que fazem
isso ou aquilo, e esquecemos que cada um nós também tem os seus pecados e
diga-se de passagem, alguns até são de estimação.
Nos tempos de Jesus o
olhar das pessoas era em função daquilo que elas faziam quanto ao cumprimento
da lei. Por outro lado, nos nossos tempos, embora não olhemos para a lei do
mesmo modo, a verdade é que a religiosidade continua a ser o elemento que nos
leva a medir e definir o pecador.
Louvado seja Deus, que
por sua graça, olhou para nós pecadores, através de Jesus.
Ezequiel Julião
Ezequiel Julião