domingo, 12 de agosto de 2018

O conceito de pecadores no tempo de Jesus - Ezequiel Julião

Uma comparação entre os conceitos daquele tempo e os nossos.

Definir pecado quando olhamos para a Bíblia nos leva a um olhar atento, porque os termos usados para designa-lo são variados, tanto no hebraico como no grego. Por um lado refere-se a uma pessoa (normalmente as prostitutas, os ladrões e outros de baixa reputação, cujos pecados eram óbvios e grosseiros), ou a nação de Israel, quando reconhecia-se como tal, ou na maioria das vezes as nações que não andavam segundo as leis de Deus. A título de exemplo encontramos David por duas vezes a reconhecer-se como pecador e a pedir perdão (2 Sm 12.13 e 2 Sm 24.17). Nas muitas vezes em que o povo de Deus reconhecia que havia pecado contra o Senhor (o livro de Juízes dá-nos um relato claro de como isso acontecia frequentemente, e como Deus, por meio do seu Espírito, envia um libertador, após o povo reconhecer o seu pecado). Por último, quando o povo de Deus olhava para os pagãos e considerava-os pecadores, como exemplificamos no segundo texto, onde, em Hc 1.13, o profeta intercede identificando os invasores como perversos (pecadores), porque não tinham em Deus o seu Senhor e pastor.

Nos tempos de Jesus

Nos tempos pós-exílicos, até ao tempo em que Jesus exerceu o seu ministério, as pessoas em Israel tinham como pecadores todos aquelas nações, ou indivíduos que não andavam e regiam suas vidas debaixo da lei de Deus. No entanto, entre os Israelitas também encontravam-se aqueles a quem os chefes religiosos claramente taxavam como pecadores.

Quando olhamos para os evangelhos, e os relacionamentos de Jesus tanto com os seus discípulos como com outras pessoas, podemos ver como os líderes religiosos do seu tempo marcavam as pessoas. Para eles Jesus era amigo dos pecadores e isso servia de acusação. Por exemplo:

Quando Levi é chamado pelo mestre para o seguir (Mt 9.9:13, Mc 2.13:17 e Lc 5.27:32), os fariseus prontamente o repudiam porque não se deve comer com pecadores que eram muitos. Levi tinha convidado os seus amigos cobradores de impostos que eram vistos como os piores pecadores não só pelos líderes religiosos mas pelo povo em geral por prestarem serviço aos romanos.

A narrativa de Lc 7.36:50 fala de uma mulher pecadora. Interessante é que não sabemos muito do porquê ela era conhecida como pecadora. Como vimos acima, prostitutas eram chamadas de pecadoras e, por isso, muitos estudiosos apontam ela como sendo uma. O facto é que Jesus a recebe, e por isso é criticado pela convivência com uma pecadora.

Nos nossos tempos

Nos nossos dias embora não as cataloguemos como pecadores, existem as pessoas viciadas em drogas pesadas, os assassinos, os violadores e outros mais, que são tidos como os piores da sociedade, em termos gerais.

Dentro das comunidades cristãs sabemos, pelo ensino de Jesus, que todos somos pecadores. Mas será que essa é uma realidade vivida, ou apenas aquilo que é o ideal? Na verdade também taxamos alguns como pessoas com quem não devemos conviver, e por isso temos a tendência de identificar os outros como pecadores, com a desculpa de que fazem isso ou aquilo, e esquecemos que cada um nós também tem os seus pecados e diga-se de passagem, alguns até são de estimação.

Nos tempos de Jesus o olhar das pessoas era em função daquilo que elas faziam quanto ao cumprimento da lei. Por outro lado, nos nossos tempos, embora não olhemos para a lei do mesmo modo, a verdade é que a religiosidade continua a ser o elemento que nos leva a medir e definir o pecador.

Louvado seja Deus, que por sua graça, olhou para nós pecadores, através de Jesus.

Ezequiel Julião