domingo, 5 de agosto de 2018

O serviço como uma expressão de amor - Miguel Jerónimo

Uma das facetas mais essenciais de um bom líder cristão é o de ser um reflexo do coração de Deus para com o ser humano e poucas coisas demonstram mais o nosso amor por alguém do que servi-la.

Encontramos nos Evangelhos diversos exemplos de como atos de serviço eram entendidos por Jesus como atos de demonstração de amor, sendo o mais marcante provavelmente o da mulher em casa de Simão, que lava os pés de Jesus com as suas lágrimas e os enxuga com os seus cabelos (Lucas 7:36-50). Jesus estabelece ali uma correlação entre o serviço que ela Lhe prestava (lavar os pés aos convidados para um banquete era um serviço habitual) e o muito amor que ela Lhe tinha (vs.47b).

Ao longo do Seu ministério Jesus serviu todos com quem se relacionou e nunca o fez como uma tentativa de Se autopromover (em alguns milagres pedia mesmo que se guardasse segredo) mas sim para demonstrar o Seu amor incondicional.

O apóstolo Paulo usa mais tarde esse argumento ao apelar aos cristãos de Filipo que “tenham os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que por natureza era Deus, não quis agarrar-se a esse direito de ser igual a Deus. Pelo contrário, privou-se do que era seu e tomou a condição de escravo” (Filipenses 2:5-7 - BPT). Precisamos de entender que um Messias que demonstra o Seu amor servindo os outros era tão escandaloso naquela época como o é agora, mas era exatamente essa associação de liderança, serviço e amor que Jesus fazia e que Paulo agora ressaltava.

O serviço tem ainda uma característica que o diferencia de muitas outras demonstrações de amor: ele é essencialmente prático! Ninguém fica indiferente quando o servimos sem segundas intenções, quando servimos sem exigir nenhum pagamento ou recompensa, nem mesmo esperando um elogio. E quando levamos esta atitude mais longe e servimos aqueles que, perante a sociedade, estão abaixo de nós (pela sua situação financeira, estrato social ou raça), então o testemunho torna-se ainda mais forte.

Por fim, importa ainda ressaltar que o serviço não só é uma expressão de amor mas é ele mesmo motivado pelo amor. Veja-se a história da atarefada Marta, em Lucas 10:39-41, que tinha o seu foco dividido entre Jesus e a falta de ocupação da sua irmã! A crítica que Jesus lhe fez não foi por ela O estar a servir, mas para Jesus o serviço tinha tanto de ação quanto de atitude, podemos até dizer que a Sua ação era um reflexo da Sua atitude interior e não apenas uma demonstração pública, coisa que Ele criticou por exemplo na atitude dos fariseus[1]. Assim, Ele tinha prazer no serviço de Marta, apenas se fosse com o foco exclusivo Nele e não por comparação (com a irmã) ou como demonstração exterior de compromisso ou espiritualidade. Isso não mudou, e permanece o padrão para nós hoje, principalmente para nós líderes!

Ser motivados por amor e demonstrar amor aqueles a quem Deus ama, o que mais pode um líder desejar?

Miguel Jerónimo



[1] FLEMING, Kenneth C. Ele humilhou-se a Si mesmo. São Paulo: Editora Vida, 1994.