domingo, 5 de agosto de 2018

A Importância da mesa no ministério de Jesus - Perdão, Graça e Restauração - António Bento

Uma mulher e um homem. Ela, uma perfeita desconhecida, ele, um imperfeito conhecido. Ela, uma pecadora, ele, um discípulo honrado do Senhor Jesus. Ela, anónima, ele, o que viria a ser conhecido por Apóstolo Pedro. Que contraste aparentemente gritante. Mas a história, que é feita de contrastes exteriores, mostra que, interiormente, ambos careciam do mesmo.

Ela, impura e por todos rejeitada, como se de uma doença infeciosa se tratasse, contra tudo e contra todos, entrou de rompante pela casa de um fariseu, para a qual não havia sido convidada, procurando acercar-se da mesa preparada, onde sabia que Jesus lhe podia outorgar paz (Lc 7.36-50). Ele, cansado e frustrado, andara na faina toda a noite sem nada conseguir pescar, mas “empurrado” por uma repentina pesca milagrosa, lançou-se ao mar, para encontrar, à mesa improvisada, o mestre que sabia que o podia aliviar (Jo 21.1-25).

Aquela mulher, que não era sequer convidada, confrontando a todos, tornou-se anfitriã, lavando os pés de Jesus com lágrimas, enxugando-os com os cabelos, beijando-os e derramando sobre Jesus o melhor perfume, esbanjando com Ele a sua devoção. O fariseu, suposto anfitrião, nem queria crer no que via, e arrazoava consigo mesmo que aquele homem nada tinha de profeta, pois, de outro modo, facilmente saberia que estava na presença de uma pária. A este último Jesus, parlamentarmente, mostrou um princípio simples: A quem Ele muito perdoa, muito O ama. E foi muito o amor que aquela mulher Lhe demonstrou.

Quanto ao homem, que foi convidado para uma refeição, numa mesa à beira-mar plantada, esse viu-se confrontado pelo Mestre dos mestres. O que se esperava ser uma coroação de um “príncipe sucessor”, afinal transformou-se numa entrevista dolorosa, que deixa um Apóstolo em profunda consternação. Junto ao fogo provido pelo seu Senhor, que muito o amava, triplamente teve de afirmar o seu amor, na esperança de quebrar a barreira da tripla negação praticada noutra fogueira.

A ambos, mulher pecadora e discípulo “honrado”, Jesus estendeu o que eles mais requeriam. A ela, lhe disse “os teus pecados te são perdoados (...) A tua fé te salvou; vai-te em paz.” (Lc 7.48,50). A ele lhe disse “Apascenta as minhas ovelhas.” (Jo 21.17). Ambos pecaram, ambos careciam de perdão, ambos beneficiaram de graça e ambos foram restaurados. É assim que Jesus atua à mesa, repartindo uma refeição, removendo a culpa e a vergonha e estendendo a graça maravilhosa do nosso Deus.

Jesus mostra-nos, deste modo cortante, que se olhamos os outros de cima para baixo, amamos pouco, porque nada entendemos acerca da natureza dos nossos próprios pecados, nem da graça de Jesus, mas se olharmos de baixo para cima, reconhecendo a nossa própria miséria pecadora, estaremos preparados para amar, estendo o amor e a graça de Jesus aos pecadores que nos rodeiam.

À mesa, somos convidados a expressar perdão onde ele for necessário, a estender reconciliação onde ela for urgente, a criar o espaço para que corações feridos se curem, corações deprimidos e frustrados adquiram uma nova visão e corações divididos e afastados encontrem a paz de Deus. À volta da mesa somos convidados pelo Mestre a oferecermos graça, não a nossa, mas a de Jesus, abrindo a porta para que pessoas perdidas possam ser seduzidas por uma vida melhor, numa nova sociedade, de graça, inclusão, restauração e transformação.

António Bento